domingo, 27 de setembro de 2015

Pensatas de domingo. Dilma: da berlinda ao abandono


No dia 15 de fevereiro deste ano, postei neste blogue “Dilma na berlinda” em que abordava manifestações contra a presidente programadas para o mês seguinte –justamente 30 dias após a data daquela publicação–, em que a oposição, liderada pelo PSDB e setores ainda mais à direita iniciavam um pré-teste para medir suas forças e até que ponto poderiam chegar.
Hoje, decorridos sete meses daqueles acontecimentos chegamos a um ponto crítico, em que a direita, acobertada por uma mídia quase que exclusivamente privada, patrocinada por seus anunciantes, ligados à alta burguesia local e ao imperialismo globalizado, instituiu um processo de radicalização em cima de políticas duvidosas do PT, principalmente nos escândalos envolvendo a Petrobras, que ficaram conhecidos como “Operação Lava Jato”.
Outro dado curioso deste processo é que a mídia construiu um mito de que praticamente a corrupção no Brasil começou com os governos do PT; como que esquecendo que desde o início da colonização portuguesa ela (a corrupção), veio a reboque. E mais curiosamente ainda, amplos setores da opinião pública, mormente a pequena burguesia, embarcaram nesta versão.
Nascido com o apoio da CIA, o PT nunca foi de fato um partido de esquerda. Sempre assumiu uma posição, no máximo reformista, tendo adotado o neoliberalismo capitalista desde que assumiu o poder federal, ao manter a política econômica de seu antecessor, o tucano FHC. Mas a verdade mesmo é que “pisou na bola” desde o início. O escândalo do “mensalão” já significou um passo na direção de seu fracasso. Apesar de que a implantação de uma CPI para investigar o ocorrido tenha sido uma prova inédita de transparência neste país. Um exemplo disso é que o PSDB arquivou toda e qualquer possibilidade de investigações de seus deslizes governamentais, tanto na área federal quanto nas estaduais, e até municipais.
Mas voltando à vaca fria, os governos do PT entregaram-se à tradicional orgia da corrupção no Brasil, não somente nada fazendo para combatê-la, como entrando de cabeça no olho do furacão. Resultado: o total desmoronamento de suas promessas enquanto oposição, de que a combateriam quando governantes. Hoje, o PSDB veste a camisa de “honestinho”, fazendo oposição ao PT, enquanto o PMDB chantageia o governo em larga escala, ameaçando abandonar uma aliança que remonta aos tempos do governo Lula. É bom lembrar que o atual vice-presidente, Michel Temer é do PMDB.
A Dilma, em franco abandono, resta ser governada pelo PMDB; e a prova disso tem sido a reforma ministerial em andamento.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Ainda sobre Michael Löwy: seu novo livro


O livro “Revolta e Melancolia” percorre música, literatura, artes plásticas, filosofia. Rousseau, Goethe, Stravinski, Rosa Luxemburgo, Tolstói, Marx, Balzac compõem a trama da análise. Os autores propõem um conceito abrangente de romantismo como estrutura mental, forma de ver o mundo. Nessa concepção, o romantismo teria dimensões não apenas nas artes e na filosofia, mas na economia e no pensamento político, bem como nas ciências humanas. Seria também algo maior do que um movimento temporal do início do século XIX, mas uma estrutura de pensamento identificável já a partir de meados do século XVIII e perdurando até os dias atuais.
Esta concepção mais abrangente de romantismo dos autores explica o fenômeno como uma reação à modernidade capitalista. Uma reação interna, portanto operante com a própria visão de mundo gerada pelo capitalismo. Uma reação tradicionalista, que idealiza um passado (imaginado) naquilo que ele tinha de não-capitalista e de pré-capitalista. Para chegar a esta idéia os autores partiram do campo das análises marxistas da sociedade e da cultura, especialmente as teorias literárias de Lucáks e Lucien Goldman, apesar destes autores apresentarem uma visão diferente sobre o romantismo.
Para os autores, o romantismo não é só um movimento artístico do século 19: está nas jornadas de Maio de 1968, na luta ambiental, nas artes no Brasil dos anos 1960, na resistência armada às ditaduras militar na América Latina, em protestos contemporâneos na Europa, nos EUA e na América Latina.
A ênfase está no que os sociólogos definem como romantismo revolucionário –“o que não deseja uma volta ao passado, mas uma volta pelo passado, em direção à utopia futura”, diz Löwy.
Publicado em francês originalmente em 1992, o livro interpreta manifestações de oposição ao avanço capitalista. “Naturalmente o romantismo se transformou. Suas formas são diferentes das do século 19 e das de 30 anos atrás. Mas a análise continua válida. O romantismo é uma crítica à civilização burguesa, que continuará a existir enquanto persistir a burguesia”, afirmam os autores.

1. Michael Löwy nasceu em São Paulo em 1938. Licenciou-se em Ciências Sociais na USP em 1960 e doutorou-se na Sorbonne, sob a orientação de Lucien Goldmann, em 1964. Vive em Paris desde 1969, onde trabalha como diretor de pesquisas no CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) e dirigiu um seminário na École des Hautes Études en Sciences Sociales. Considerado um dos maiores pesquisadores das obras de Karl Marx, Leon Trotski, Rosa Luxemburgo, György Lukács, Lucien Goldmann e Walter Benjamin, tornou-se referência teórica para militantes revolucionários de toda a América Latina. É autor de livros traduzidos em 25 línguas, entre os quais “Marxismo, Modernidade e Utopia” e Walter Benjamin: aviso de incêndio”.

2. Robert Sayre nasceu nos Estados Unidos e vive na França desde 1980, onde é professor emérito de English and American Studies na Universidade de Paris Est Marne-la-Vallée. Realizou seus estudos avançados na Columbia University e lecionou na Harvard University. Autor de diversos artigos e sete livros, alguns em parceria com Michael Löwy, publicou, recentemente, La Modernité et son ‘Autre’: récits de la rencontre avec l’Indien en Amérique du Nord au 18e siècle”.

domingo, 20 de setembro de 2015

Pensatas de domingo


O país vive uma onda conservadora. “Há um “modernismo” reacionário, que sempre é favorável ao sistema capitalista, por mais que critique esse ou aquele aspecto da vida política, como a corrupção e a má administração.
É o que avalia Michael Löwy(1), sociólogo paulista radicado em Paris, que em conjunto com o estadunidense Robert Sayre(2), está lançando no Brasil “Revolta e Melancolia”.
Para Löwy, o elemento mais preocupante da extrema direita conservadora no país, sem paralelo com a que existe na Europa, é o apelo aos militares. “O saudosismo da ditadura militar é o aspecto mais sinistro da recente agitação de rua conservadora no Brasil”, diz.
Alinhado com a esquerda, ele advoga que outras organizações, como o PSOL ou o PSTU não conseguiram ocupar o espaço que havia sido do PT, ainda que possam vir a fazê-lo no futuro. As semelhanças com o movimento de direita europeu surgem, segundo ele, na ideologia repressiva, no culto à violência policial –como na “bancada da bala” nos parlamentos– e na intolerância com as minorias sexuais. Do outro lado do espectro político, Löwy relaciona a crise do PT com a “perda de seu horizonte radical”. Afirma que o partido perdeu contato com suas bases populares, aderiu ao receituário neoliberal e fez desaparecer de seu programa a tese socialista.
“Quem vai decidir se haverá uma saída para a esquerda serão os movimentos sociais: os sem-terra, os sem-teto, os sindicalistas, os ecologistas, os indígenas, os afrobrasileiros”, opina.
Löwy tem toda razão quando ressalta o “saudosismo da ditadura militar como o aspecto mais sinistro” (sic) de setores da direita brasileira. Eu mesmo lembro-me um caso que aconteceu comigo há cerca de três anos atrás, numa fila de supermercado em que ao conversar com um vizinho de espera sobre a lentidão no atendimento o sujeito disparou a falar agressiva e veementemente dos tempos da ditadura, afirmando que naqueles tempos as “coisas não aconteciam assim”... Eu fiquei a fita-lo atônito, como que não acreditando naquilo e preferi calar-me.
É certo que são minorias da extrema direita, mas, de qualquer maneira há golpe e golpe: o militar e o político. Este último em claro andamento.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Nota Importante!

Por alguns meses estive fora do ar com este Blogue. Isto porque houve problemas sérios quanto à postagem. Principalmente em sua configuração que impossibilitava conseguir publicar nada; alem de apresentar uma paginação completamente diferente, mesmo quando conseguia colar um texto aparecia uma mensagem de “erro” e eu perdia tudo.
Apesar de por vezes aparecer a configuração habitual, quando eu retornava para efetivar a publicação, esta desaparecia. Espero agora poder dar continuidade a Novas Pensatas.
Até breve!