domingo, 25 de maio de 2014

Copa do Mundo: quem lucra e quem paga a conta?

Ilustração: C.M.Bryan


A pensata deste domingo é da autoria do professor Jorge Vital de Brito Moreira
    
O Jornal Sport do dia 19 de maio de 2014, mostra uma foto do jogador Leonel Messi sentado numa mesa de vidro ao lado do Sr. Josep Maria Bartomeu, o atual presidente do Fútbol Clube Barcelona da Espanha.  Embaixo da foto do jornal catalão, se encontra uma notícia intitulada Leo Messi firma la mejora de su contrato con el Barça. Em seguida, o jornal amplia a informação: Leo Messi ha firmado este mediodía la mejora de su contrato (pasará a cobrar 20 millones de euros netos por temporada) y esta tarde se va a Argentina.”
Que noticia, hein! A poucas semanas do inicio da realização da Copa Mundial da FIFA no Brasil, o Barcelona melhora o contrato do astro argentino. Bom, estamos aqui outra vez e não temos alternativas; temos de denunciar fatos obscenos como este: não podemos deixar que uma escandalosa notícia esportiva como a mencionada circule impunemente  na mídia corporativa sem  nenhuma resistência apropriada por parte dos oprimidos do sistema capitalista.
Contudo gostaria de informar ao leitor de Novas Pensatas que além de ser brasileiro, gosto de jogar e de assistir as partidas de futebol nacional e/ou internacional. Também devo informar que faz muitos anos, sou torcedor do Barcelona da Espanha e considero Leonel Messi atualmente (apesar da fraca campanha que realizou este ano), o melhor jogador de futebol do mundo. Neste ponto, estou de acordo com o parecer de Zico. “Hoje, Messi é o único gênio do futebol”. O astro argentino é sem duvida um jogador fenomenal.  Mas apesar dos elogios ao jogador Messi e à sua excepcionalidade, me parece um absurdo que um clube de futebol pague 20 milhões de euros por temporada para que possamos assistir a exibição de um grande jogador de futebol.
Espero estar sendo claro: não estou me referindo aqui somente ao que está ganhando ou vai ganhar Leonel Messi para jogar futebol, mas ao que isso representa dentro do sistema capitalista: aqui me refiro, sem exceção, a todos os clubes, e a todos os jogadores de futebol (Cristiano Ronaldo, Ibrahimovich, Neymar Jr. ou Tiago Silva, etc.) que, como Messi, ganham milhões de euros anuais para jogar futebol e fazer propaganda para as grandes corporações capitalistas.
É inaceitável que países endividados, submetidos a graves crises sócio econômicas, produtores de milhões de desempregados ou subempregados, possam continuar promovendo esta obscena concentração de renda e esta desgraçada injustiça social. Na Espanha, por exemplo, a taxa de desemprego para jovens de menos de 25 anos é de mais de 55%; e para toda a população economicamente ativa, a taxa de desemprego, é superior a 27%). Se consideramos, junto ao caso do Barcelona, o caso do Real Madrid, também da Espanha , não podemos deixar de perguntar: como e onde, o senhor Florentino Perez, o presidente do Real Madrid (onde Cristiano Ronaldo recebe em torno 18 milhões de euros anuais) consegue tanto dinheiro para cobrir uma das folhas de pagamento mais caras do planeta?
Da mesma forma, devemos questionar intransigentemente: como é possível que o governo de um país (auto intitulado democrático) que produz, de um lado, uma das maiores concentrações de renda do planeta, (em beneficio de uma pequeníssima minoria de bilionários) e produz, por outro lado, uma das piores distribuições de renda do mundo (um Brasil onde a injustiça social aumenta e se consolida diariamente), possa bancar com dinheiro publico a realização da Copa do Mundo de Futebol para aumentar a concentração de renda e promover mais injustiça social?
Estas questões fundamentais sobre a concentração de renda (milhões de euros, dólares ou reais nos bolsos dos proprietários de corporações Coca Cola, Nike, McDonalds, nos bolsos de atletas esportivos, de artistas de cinema, de executivos das finanças) teem sido destacadas, não somente por parte da população europeia em crise, mas por milhões de pessoas que são vitimas permanentes da exploração econômica, da injustiça social e a opressão neste sistema capitalista.
Mas, apesar de socialmente explorada, parte significativa da população mundial permanece lúcida para questionar o domínio econômico, político e ideológico da maior jogada comercial do mundo desportivo: A Copa do Mundo da FIFA, das multinacionais, das empreiteiras, das autoridades politicas, administrativas e esportivas do Brasil.  Eduardo Galeano, o brilhante escritor uruguaio, um apaixonado pelo jogo de futebol,  denunciou certeiramente a FIFA dizendo: “La FIFA es el FMI del fútbol” (A FIFA  é o FMI, o Fundo Monetário Internacional, do futebol).
Assim, diante do aumento da concentração de renda, do aumento da injustiça social que a Copa do Mundo da FIFA traz pro Brasil (sem mencionar aqui, por falta de espaço e tempo, a corrupção da FIFA (1) desde o tempo de João Havelange, Ricardo Teixeira (2); o aumento da corrupção e do assalto aos cofres públicos pelos políticos e autoridades brasileiras), não existe alternativa: temos de denunciar, nos defender, protestar e nos organizar para lutar contra a continuidade da opressão futebolística.
Não devemos deixar de lado o exemplo da África Sul; não podemos esquecer que a realização da Copa do Mundo naquele país produziu, por um lado, lucros bilionários para a FIFA e as multinacionais como Coca Cola, Nike, McDonalds; mas, por outro lado, produziu um miserável resultado para a maioria da população do país: pagar as contas que a FIFA e seus cúmplices deixaram nas costas do governo da África do Sul.
 E nem mesmo o extraordinário legado politico e moral de Nelson Mandela (resultante da derrota do apartheid) pode derrotar a dominação  econômica do neoliberalismo e da FIFA na África do Sul: a pobreza e as desigualdades sociais,  continuam crescendo e a situação socioeconômica da maioria da população piora cada dia que passa.
            Portanto, diante de tamanha calamidade social, as passeatas e as manifestações públicas realizadas pela população brasileira em geral (estudantes e trabalhadores) e pelos movimentos sociais (tais como Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, MST) de repudio à Copa do Mundo, contra o governo, contra as corporações, contra a cumplicidade da mídia coorporativa, e das autoridades políticas, administrativas e esportivas, estão completamente justificadas: tem sido uma resposta taticamente acertada: necessária, imprescindível e contundente não só para demonstrar o escandaloso processo de corrupção, de abuso do poder público, mas da urgente necessidade de trabalhar para  mudar este infame sistema social.

1) Um dos livros  mais importantes na denuncia do processo de desenvolvimento da corrupção  da FIFA e do futebol se encontra no livro de David Yallop ¿Cómo se robaron la copa? Editorial Oveja Negra, 2001
2) Com prefácio do ex-jogador e atual deputado federal Romário de Souza Faria, O Lado Sujo do Futebol é um livro recente dos repórteres Amaury Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastiner  publicado pela Editora Planeta que mostra a trama das propinas, negociatas, traições e escândalos  que teem envolvido a FIFA, a CBF e o futebol.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Você sabia da greve do hamburguer?

Com o título de “Paran empleados de cadenas de comida rápida en EE.UU y otros 30 países” (Em greve empregados das cadeias de fast-food nos EUA e outros 30 países), o jornal Rebelión, publicado na web (ver link ao lado), postou esta matéria de autoria de David Brooks publicada originalmente no dia 15 de maio último, no periódico La Jornada. Uma notícia, que eu saiba, nada divulgada no Brasil.
Achei por bem transcrevê-la em espanhol, porque, creio ser de leitura fácil para boa parte dos leitores, e tambem porque uma tradução exigiria tempo e talvez não resultasse tão correta.

Elevar los sueldos implicaría eliminar miles de empleos, según las multinacionales
Nueva York, 15 de mayo.
Trabajadores y simpatizantes de una campaña para exigir mejores salarios y el derecho a la sindicalización para los millones de empleados de las principales cadenas de comida rápida, realizaron paros y mítines en más de 150 ciudades de Estados Unidos, y en otras 80 localidades de 30 países, según organizadores que afirmaron que se trata de la movilización laboral más grande de este tipo.
Aquí y en Los Ángeles, Atlanta, Chicago, Filadelfia, Milwaukee y decenas de ciudades más, trabajadores, sindicalistas, líderes comunitarios, defensores de derechos laborales y organizaciones inmigrantes realizaron acciones frente a franquicias de McDonald’s, Burger King, KFC, Wendy’s y otras de las grandes multinacionales de comida rápida, al tiempo que sus contrapartes en otras ciudades del mundo hacían lo mismo. Huelga por $15, $15 y un sindicato y Valemos más se leía en las pancartas. En Chicago, la marcha arrancó con mariachi.
La principal exigencia en Estados Unidos es elevar el salario a 15 dólares la hora, ya que gran parte de los trabajadores en este sector gana el mínimo federal, de entre 7.25 dólares y 9 dólares.
El movimiento nació en 2012 con una serie de paros en las franquicias de comida rápida en Nueva York, algo que se expandió en los últimos meses por el país con la realización de varios paros de un día. Aunque el movimiento aún no puede calificarse de masivo –las acciones de hoy convocaron en algunos casos a unas 200 personas, y en otras sólo decenas–, ambos lados, el laboral y el empresarial, entienden que puede ser apenas el inicio de un movimiento con enorme potencial ante la realidad de la histórica brecha entre ricos y todos los demás, en cada vez más países.
Las matrices de estas empresas, asociaciones empresariales de la rama y centros de análisis conservadores, han descalificado la importancia y dimensión de estas acciones, y acusado que son fabricadas por sindicatos para uso mediático, sin contar con gran participación de los empleados. A la vez, advierten que aceptar la demanda para elevar los salarios implicaría eliminar miles de empleos y elevar los precios al consumidor. Más aún, insisten en que ya ofrecen salarios competitivos y oportunidades de avanzar para millones de trabajadores de bajos ingresos.
Pero el movimiento de fast food, apoyado por algunos sindicatos, sobre todo el Internacional de Empleados de Servicios (SEIU), continúa exigiendo el incremento, así como el derecho de sindicalización. Las acciones de hoy inauguran una nueva estrategia de internacionalizar el movimiento para contar con el apoyo de movimientos sindicales mucho más fuertes en otros países, así como para enfrentar a estas empresas multinacionales a escala global.
Los organizadores afirman que se realizaron protestas de apoyo y solidaridad en por lo menos 80 ciudades de países como Japón, Gran Bretaña, Suiza, Brasil, India, Italia, Panamá, Corea del Sur, Argentina, Marruecos, Nueva Zelanda e Irlanda, entre otras.
De hecho, para coordinar el esfuerzo de esta jornada de protesta, la federación sindical internacional de Asociaciones de Trabajadores de Alimentos, Agrarios, Hoteles y Restaurantes, que representa a más de 12 millones de trabajadores en 126 países, sostuvo una reunión en esta ciudad la semana pasada con representantes sindicales de unos 25 países.
Para algunos, esto implica internacionalizar la lucha laboral en el contexto de la llamada globalización, con McDonald’s y otros ofreciendo un enemigo común por su presencia mundial (McDonald’s tiene casi 2 millones de empleados en 118 países, y en el sector privado sólo le gana Walmart).
Investigaciones recientes citadas por el movimiento revelan que más de la mitad de las familias de los trabajadores en las franquicias de comida rápida dependen de programas de asistencia pública porque no cuentan con un ingreso suficiente para necesidades básicas, empezando por la comida; eso tiene un costo a las arcas públicas de casi 7 mil millones de dólares al año. O sea, que el pago tan inferior a los trabajadores de estas empresas implica que sus costos laborales son esencialmente subsidiados por el público, argumentan dirigentes de este movimiento.

Fast Food Forward, la entidad del movimiento en Nueva York, argumenta que la industria de comida rápida es de unos 200 mil millones cada año, y que el salario anual promedio de un trabajador en ese sector es de 11 mil dólares, mientras el salario diario promedio de los altos ejecutivos es de 25 mil (más del doble del salario anual de sus trabajadores). Según CNN-Money, el pago medio para un trabajador del sector es de poco más de 9 dólares la hora, o 18 mil 500 dólares anuales, unos 4 mil 500 por debajo de la línea de pobreza oficial para una familia de cuatro personas.
Esta campaña forma parte de un movimiento diverso para elevar los salarios mínimos tanto en otros sectores (un enfoque ha sido Walmart) y que ha logrado, junto con fuerzas políticas, triunfos significativos a escala municipal y estatal (por ejemplo, California aprobó elevar el salario mínimo a 10 dólares por hora, el alcalde de Seattle promueve una alza a 15 dólares, entre otros, y 21 estados más ahora gozan de un salario mínimo superior al federal). Este movimiento también ha contribuido a que el presidente Barack Obama recientemente haya propuesto elevar el salario mínimo federal a 10.10 dólares la hora.

domingo, 18 de maio de 2014

Pensatas de domingo, Rede Globo e alienação



A desinformação generalizada, ou melhor dizendo: a “informação” destorcida e/ou parcial dos fatos continua a olhos vistos por parte da grande mídia, mormente a televisiva, quanto a acontecimentos da vida política no país e no mundo.


Esta semana, fui testemunha ocular de um destas manipulações por parte da Rede Globo, no caso, a GloboNews, canal fechado, noticioso do complexo televisivo.


Durante a transmissão de uma passeata (pacífica) contra a realização da Copa do Mundo em São Paulo, no momento em que, repentinamente começou uma manifestação violenta, de forma tão repentina quanto esta, o canal, esquecendo tudo o que acontecera anteriormente, passou a enfatizar apenas a dita “violência”, ficando por longo tempo a narrar com detalhes os chamados “atos de vandalismo”.


Na verdade, é habitual a famigerada rede de televisão agir desta forma. A sua estratégia é ater-se apenas ao lado violento de quaisquer manifestações com a nítida finalidade de esvaziá-las, tornando-as tão somente formadoras de confusão e baderna; tentando fazer com que os telespectadores se esqueçam por completo que aquela concentração começara de forma pacífica.


Uma maneira de alienar o público, colocando-o contra ações –mesmo que pacíficas– por parte das massas. E para tal, mentem, destorcem e criam situações com a finalidade de manipulação da informação.


O exemplo postado abaixo, alias, é bastante ilustrativo de tudo o que falei acima.


Manipulação de notícias pela Rede Globo: fotógrafo ferido

domingo, 11 de maio de 2014

Pensatas de domingo, Ucrânia e o fantasma da Guerra Fria




Há várias semanas a mídia ocidental está engajada em denunciar primeiro a suposta ação de Putin na Crimeia – e em seguida, na Ucrânia.
No caso da Ucrânia, há alguns pontos determinantes que estão sendo ocultados neste coro da imprensa. Começando, nunca se mencionam as responsabilidades do Ocidente no caso. É bom lembrar que Mikhail Gorbachev, negociou com os chefes de Estado dos EUA, Grã-Bretanha, Alemanha e França que aceitaria a reunificação da Alemanha; mas que o Ocidente, em contrapartida, não deveria tentar invadir a área de influência da Rússia.
Bem, pra começar, em 2011 tornou-se claro que os Estados Unidos tentaram intervir nas eleições parlamentares russas. Toda a mídia ocidental colocou-se contra Putin, que acusou os EUA de financiarem grupos oposicionistas. O embaixador estadunidense, afirmou tratar-se de exagero, e acrescentou que apenas algumas dezenas de milhões de dólares haviam sido doados a grupos da sociedade civil. Putin foi eleito novamente para a presidência em 2012 [após quatro anos como primeiro-ministro], já então obcecado com as ameaças ocidentais a seu poder.
Quando houve a Primavera Árabe, a Rússia autorizou ação militar na Líbia, mas apenas para garantir ajuda humanitária. Ela foi utilizada para provocar mudança de regime, e sentiu-se enganada. Então, surgiu a crise na Síria e o Ocidente tentou obter novamente o apoio da Rússia para uma mudança de regime – irritando-se com a recusa de Putin. Finalmente, agora, aconteceu a intervenção na Ucrânia, com o intuito de colocar o país na União Europeia e assim, distante do bloco econômico eurasiano que a Rússia tenta criar.
Outro ponto é que nenhuma ação política, exceto uma guerra, pode reduzir a Rússia à condição de um poder apenas local. É o maior país do mundo em território, é ao mesmo tempo, Europa e Ásia. É um produtor destacado de petróleo, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e tem um respeitável arsenal nuclear. Qualquer esforço para cercá-la ou enfraquecê-la, agora que o confronto ideológico ficou para trás, só pode ser visto como parte da velha política imperial.
Mais um ponto: a crise ucraniana deveria ser melhor examinada. É um Estado frágil, em que a corrupção controla a política e que vive problemas econômicos estruturais. Seu Oeste é mais rural; o Leste, mais industrializado. Os trabalhadores desta região sabem que um ingresso na Europa representaria o fim de muitas fábricas. No Oeste, muitos colocaram-se ao lado dos nazistas na II Guerra Mundial e há um movimento nacionalista forte, próximo ao fascismo. A Ucrânia é um problema muito complicado.
Chegamos ao último ponto: Putin é um ex dirigente, para quem a Rússia foi tratada injustamente, na dissolução da União Soviética. Todos os esforços para chegar a um entendimento com o Ocidente foram traídos, com sucessivas ampliações da OTAN, uma rede de bases militares cercando o país e um claro apoio do Ocidente a todas as oposições. Ele sabe que estas opiniões sobre o declínio russo são compartilhadas por uma ampla maioria de cidadãos.
Para ele, a Ucrânia foi politicamente inaceitável. Ele está apresentando-se como defensor dos cidadãos russos, algo que lhe permite atuar em todos os lugares onde há minorias russas.
Por outro lado, os russos também sofrem com a inércia da Guerra Fria e não veem o Ocidente exatamente como um aliado. Putin é hoje a única força de coesão na Rússia. Se ele se fosse, haveria, muito provavelmente, um longo período de caos. Isso certamente não interessa aos cidadãos russos… E é sempre perigoso praticar jogos de poder sem levar em conta a estabilidade da Europa… Claro, este não é o cálculo dos estrategistas ocidentais, que adorariam eliminar qualquer outro poder…
O fato é que a Guerra Fria, na verdade, nunca foi rompida.