domingo, 27 de maio de 2012

Pensatas dominicais e o socialismo permitido


Quando Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos, em meio àquela onda de euforia generalizada, publiquei algumas postagens alertando que tudo aquilo não passava de uma grande ilusão, que ele ia fazer um governo tão reacionário quanto o de seus antecessores, etc e etc. Alguem ainda duvida disso? Em alguns aspectos ele foi alem disso e conseguiu ser pior até do que Bush II.
Surpreendente para mim foi o fato de um afro descendente conseguir vencer aquela eleição, num país profundamente retrógrado e racista.
Agora é a vez de François Hollande, socialista (leia-se social democrata) que se elegeu presidente da França. Há um exagerado e inexplicável otimismo pelo fato dele ter saído vitorioso na disputa. Já até comentei aqui que seu governo não será tão “diferente” quanto imaginam alguns; ou seriam muitos? E que, na realidade, limitar-se-á à “assistência social”, característica de seu partido ao longo de grande parte do século passado.
Quando alardeiam por aí que a “esquerda” ganhou as eleições na França, resta saber o que consideram esquerda. Existe uma --permitida pelo sistema-- que sem dúvida nenhuma não tem nada a ver com o real significado da palavra. É apenas o embuste usado para enganar otários... E como existem otários! Exemplo de como a grande mídia oficial consegue através da mentira institucionalizada repetir uma mentira mil vezes e tentar transformá-la em verdade!
A social democracia surgiu no seio da II Internacional, ainda no século XIX. E, apesar de correntes de esquerda sempre terem tido expressão no seu todo ao longo do tempo [como os  espartaquistas na Alemanha ou os bolcheviques na Rússia], com o passar das décadas foi-se inclinando cada vez mais para a direita, rebatizando-se como Internacional Socialista, e, na segunda metade do século 20 abandonou completa e oficialmente suas ligações e compromissos com o pensamento marxista. Obviamente porque já não dava mesmo, pois desde o início do século, setores dos partidos que a compunham alinhavam-se mais e mais à burguesia.
Na I Grande Guerra, alguns dessas correntes defenderam o apoio do proletariado a seus países no conflito em uma clara manifestação de “social chauvinismo”. Com o advento da revolução soviética, tornaram-se os principais instrumentos das reformas sociais do sistema com a finalidade de enfrentar o perigo da “bolchevização” da luta de classes. Em essência, passaram a ser a direita com uma fachada de esquerda. Conseguiram até alguns “feitos” na Europa, mais especificamente na Inglaterra e nos países escandinavos em que se “estatizaram” a saúde, a educação e os transportes. Mas nunca, em hipótese alguma ameaçaram o sistema capitalista nem sequer cogitaram substitui-lo por algum outro caminho.
Mas voltando a Hollande, é claro que tomará medidas demagógicas e de cunho espalhafatoso que aparentem uma posição esquerdista. Foi o caso do anúncio da retirada de 2.000 soldados das tropas francesas no Afeganistão até o final do ano. Mas é importante lembrar que a França ainda é a terceira força de ocupação estrangeira daquele país.

domingo, 20 de maio de 2012

Pensatas de domingo


Quando pensamos no que de fato aconteceu com os caminhos da revolução no século passado, principalmente nos desvios que a levaram a sucumbir frente à história, não podemos esquecer Leon Trotsky e sua crítica veemente a Stalin e à burocracia implantada na União Soviética.
Certamente nos encontramos numa encruzilhada, na qual o capitalismo faliu mas não existe um contraponto imediato à sua sucessão, simplesmente porque o que foi implantado naquele período levou ao desfecho que hoje conhecemos muito bem.
A esquerda em todo o mundo procura novos caminhos, em meio à massificação da propaganda --por parte da classe dominante-- do fim das ideologias, quiçá da própria história. E indo de encontro à dura realidade de que o socialismo real no século 20 foi um real fracasso (1).
Para isto, escolhi dois pequenos trechos de dois livros marcantes que podem servir de exemplo ao que pensava de tudo isto o fundador da IV Internacional.

Neste, do livro “A Revolução permanente” [1929], por exemplo, Trotsky deixa muito clara a sua visão em relação aos caminhos do socialismo em um momento no qual o stalinismo, por conta da teoria de “construção do socialismo em um só país”, afastava-se a cada instante da essência internacionalista das relações de produção necessário a um novo sistema sócio econômico.

“Em seu terceiro aspecto, a teoria da revolução permanente implica o caráter internacional da revolução socialista que resulta do estado da economia e da estrutura social da humanidade. O internacionalismo não é um princípio abstrato: ele não é senão o reflexo político e teórico do caráter mundial da economia, do desenvolvimento mundial das forças produtivas e do ímpeto mundial da luta de classes. A revolução socialista começa no âmbito nacional mas nele não pode permanecer. A revolução pro1etária não pode ser mantida em limites nacionais senão sob a forma de um regime transitório, mesmo que este dure muito tempo, como o demonstra o exemplo da União Soviética. No caso de existir uma ditadura proletária isolada, as contradições internas e externas aumentam inevitavelmente e ao mesmo passo que os êxitos. Se o Estado proletário continuar isolado, ele, ao cabo, sucumbirá vítima dessas contradições. Sua salvação reside unicamente na vitória do proletariado dos países avançados. Deste ponto de vista, a revolução nacional não constitui um fim em si, apenas representa um elo da cadeia internacional. A revolução internacional, a despeito de seus recuos e refluxos provisórios, representa um processo permanente.”

Já no parágrafo abaixo, extraído do livro “A Revolução traída” [1936], ele aborda diretamente a burocracia e o comportamento corrosivo desta “nova classe” que levou à destruição da URSS.

“Paralelamente à degenerescência política do partido, acentuou-se a corrupção de uma burocracia que escapava a qualquer controle. Aplicada ao grande funcionário privilegiado, o termo “sovbour” - burguês soviético - entrou em boa hora no vocabulário operário. Com a NEP, as tendências burguesas beneficiaram de um campo mais favorável. Lênin punha em guarda o XI Congresso do partido, em março de 1922, contra a corrupção dos meios dirigentes. ‘Mais de uma vez aconteceu na História’, dizia ele, ‘ter o vencedor adotado a civilização do vencido, se esta era superior. A cultura da burguesia e da burocracia russas era miserável, sem dúvida. Mas as novas camadas dirigentes não são ainda superiores a essa cultura. Quatro mil e setecentos comunistas responsáveis dirigem em Moscou a máquina governamental. Quem dirige e quem é dirigido? Tenho muitas dúvidas que se possa dizer que são os comunistas quem dirigem’. Lênin nunca mais pôde tomar a palavra nos congressos do partido. Mas todo o seu pensamento, nos últimos meses da sua vida, se dirigiu para a necessidade de precaver e armar os operários contra a opressão, o arbítrio e a corrupção burocrática. Contudo, nunca chegou a observar senão os primeiros sintomas do mal.”

1. Pode para muitos parecer dura demais esta frase, mas ela reflete o que de fato aconteceu com o “pseudo socialismo stalinista”, pois se por um lado o surgimento da URSS refletiu-se positivamente no mundo inteiro, colocando a burguesia contra a parede a tentar reformas para enfrentar o “perigo”, por outro, a burocratização progressiva do sistema ali implantado minou suas bases, levando-o a uma deturpação e à criação de um regime corrupto e, em resumo, nada mais do que um “capitalismo de estado”, tão cruel quanto o capitalismo vigente no ocidente.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Farsas e frases de fachada nos EUA



Jorge Vital de Brito Moreira

Gostaria de compartilhar com os leitores de “Novas Pensatas”, quatro importantes enunciados ideológicos que têm colaborado para configurar o modo de ser politicamente alienado de indivíduos e classes sociais nos Estados Unidos da América na atualidade, ajudando, na minha opinião, a manter a hegemonia da classe dominante sobre a maioria da população do país.  
Os enunciados (slogans) são discursos ideológicos repetidos diariamente no país e podem ser sintetizados pelas seguintes sentenças: “It is just a job” (É apenas um trabalho); Get the job done” (Faça o trabalho); “The greatest democracy in the world” (A sociedade mais democrática do mundo); “All politicians lie” (Todos os políticos mentem).
(Como o leitor poderá observar este texto procura estabelecer relações entre discursos ideológicos e interesses políticos e sociais, utilizando a noção de ideologia como “ideias que permitem legitimar um poder político dominante numa sociedade formada e dividida pelas lutas entre classes sociais”).

It is just a job (É apenas um trabalho)

Vivendo nos EUA, fico cansado de ler, escutar e de assistir a personalidades públicas (militares, políticos, contadores, advogados e artistas) deste país afirmarem nos jornais, nas revistas e na TV, que profissionalmente estão fazendo o impossível para o bem estar da sociedade, da cultura e do seu povo.
Também tenho escutado esse mesmo tipo de declaração do estadunidense médio, ou seja, das bocas de vizinhos, de pessoas normais, de colegas de profissão (professores universitários), porem o que mais me surpreende é observar as reações que essas pessoas mostram quando se questiona a natureza duvidosa dos seus trabalhos.
Seja porque o que fazem é eticamente reprovável, de controvertida ilegalidade ou porque implica uma possível criminalidade. Cada vez que ouvem criticas às suas atividades profissionais, elas tomam uma posição defensiva e reagem ao questionamento, apelando para o slogan “It is just a job” (É apenas um trabalho).  Este é o modo habitual que eles encontram para justificar as funções negativas de suas atividades .
Mesmo que os implicados saibam ou tenham alguma intuição de que seus trabalhos estão vinculados ao objetivo de uma guerra para exterminar centenas de milhares de pessoas no Oriente Médio, na Ásia, na África ou na América Latina, eles apelarão para o mantra ideológico e dirão: “It is just a job”.
Assim, me parece que elas usam o slogan para tratar de escapar da responsabilidade moral, legal e política de suas atividades ou livrar-se do sentimento de culpa pelas desgraças que seus trabalhos infligem a outros seres humanos: os que são as suas vítimas. 
Essa é a forma geral usado pela sociedade civil dos EUA do slogan especifico “I was Just following orders” (eu apenas obedeci as minhas ordens) utilizado pelos militares de quase todo o mundo para justificar a sua violência ou seus crimes contra outros seres humanos.
Convém destacar que entre os grupos de profissionais que mais apelam ao “it is just a job”, encontram-se, alem dos militares, os políticos, os contadores e advogados das grandes corporações e dos grandes bancos e os produtores de armas de guerra. Não tenho nenhum respeito por estes profissionais e indivíduos que sempre procuram escapar do julgamento publico, recorrendo constantemente ao uso e abuso do slogan It’s just a job, que sem dúvida, é  um dos mais eficientes para naturalizar e legitimar ideologicamente o lado escuro e sombrio das suas atividades profissionais e das instituições do sistema capitalista.

Get the job done (Faça o trabalho)

Outro enunciado (slogan ou mantra ideológico) que tenho escutado sistematicamente no país é aquele que os indivíduos (os políticos sobretudo) utilizam para se auto promover quando estão competindo por cargos nas eleições públicas ou numa seleção de candidatos para postos bem remunerados dentro do sistema: “I am the one who can get the job done” (Eu sou o cara que realiza e conclui os trabalhos).
Algumas vezes pode-se observar que os políticos deste pais fazem alguma pequena variação em torno do tema central que geralmente toma a seguinte forma  discursiva :”I am the candidate who gets the job done” ou ainda  “I am the man (or woman) who gets the job  done”. Mas o slogan está tão banalizado que poucos são os críticos que se dão conta da sua eficácia ideológica.
Um destes críticos, Paul Craig Roberts, é um destacado analista da política e da cultura estadunidense. Certa feita, ele publicou um artigo na famosa revista  estadunidense Counterpoint, onde revelou que quase nenhum funcionário público deste país falava a verdade pois vive com medo de perder o emprego,  perder o cargo no trabalho ou perder a carreira profissional.

The greatest democracy in the world (A sociedade mais democrática do mundo)

Este é outro slogan que continua tendo um grande poder de impedir o pensamento critico nos EUA. E surpreendente constatar que embora as pessoas vivam num país onde a maioria delas atuam intimidadas e aterrorizadas pelo medo de represálias,  sigam  afirmando, sem  nenhuma dúvida, que “vivem na sociedade mais democrática do mundo”.
Na minha opinião,  tudo isso não passa de uma grande farsa, pois, na minha opinião, os indivíduos  que atuam sob o signo do medo, da prisão e da tortura, deveriam dar-se conta da manipulação ideológica, negando-se a prosseguir com a propaganda de que vivem na sociedade mais democrática do mundo

All politicians lie (Todos os políticos mentem)

Outro enunciado (máxima ou slogan) ideológico, que a maioria dos estadunidenses repete diariamente para evitar tomar conhecimento, fazer reflexão ou a participar politicamente na sua sociedade é aquela que diz : “All politicians lie” (Todos os políticos mentem).  
Desta forma, o indivíduo evita o esforço para avaliar as diferenças entre os diversos tipos de mentiras que existem no país: é inacreditável que eles nem sequer querem diferenciar entre as mentiras que matam, das que não matam; as mentiras que provocam o genocídio de milhões de seres humanos, das que tratam de evitar o sofrimento humano daqueles que, por exemplo, padecem de câncer terminal.
Mesmo sendo em geral contra qualquer tipo de mentira e particularmente contra as mentiras dos dois partidos (democrata e republicano) no poder, não posso deixar de notar que existem diferenças entre as mentiras, por exemplo, de um Bill Clinton (quando afirmou não ter tido relação sexual com Monica Lewinsky, depois que ela praticou sexo oral na Casa Branca), das mentiras de George W. Bush e Dick Chenney  quando inventaram que Saddam Hussein tinha armas de destruição massiva com o objetivo de invadir e iniciar a guerra contra o Iraque (para  se apropriar ilegalmente dos seus poços de petróleo).
Na minha opinião, existe uma grande diferença entre a mentira de um sujeito que diz que não possui 20 dólares para emprestar ao vizinho, da mentira de um médico que, depois de assustar ao paciente sobre sua situação de saúde,  recomenda-lhe uma caríssima cirurgia para  tomar o dinheiro do cara.
  
Repito: em geral, tenho ficado estupefato ao descobrir que o estadunidense médio que não reconhece a existência de diferentes tipos de mentiras está buscando um forte pretexto, covarde e conformista, para não sair de cima do muro; para fugir da responsabilidade moral e política de suas próprias decisões como cidadão do país.
Não querer diferenciar entre os tipos de mentiras indica, na minha opinião, a absurda má fé dos votantes, pois estão procurando escapar da responsabilidade das terríveis decisões políticas de um governo que eles ajudaram a colocar no poder com seu voto.
Enquanto o votante se alienar de sua responsabilidade de levar o poder a sério, o governo estadunidense continuará a contar suas mentiras quando quer obter consenso do votante para produzir novas guerras, expandir a injustiça social, ou aumentar o apoio às ditaduras sanguinárias no terceiro mundo.
Assim, devemos concluir: o americano médio que repete estes slogans ideológicos e regala o poder do seu voto ao político eleito (seja George W. Bush ou Barack Obama), está colaborando para reproduzir a guerra, a fome e a injustiça social, que tal político executa (fora de controle popular) em nome do povo de uma nação. É por isso que, na minha opinião, o votante complacente  não tem o direito a falar que o que acontece de ruim na sociedade dos EUA, não é da sua responsabilidade.  Eu diria que acontece ao contrario:  tudo o que acontece de ruim dentro e fora da sociedade capitalista estadunidense tem a co-responsabilidade social, econômica, política, moral e cultural do americano médio.
Gostaria de concluir compartindo com os leitores uma generalização que está baseada nas minhas experiências de viagens pela América do Sul, América Central e América do Norte.
Tenho vivido em diferentes países das três Américas e visitado muitos outros. Tenho, nestes países, conhecido, direta ou indiretamente, a diversos tipos de pessoas que falam línguas diferentes, que pertencem a distintas religiões, a diferentes nacionalidades, a distintas classes sociais, a diferentes princípios éticos, porém nunca conheci um país onde a hipocrisia, a desonestidade, o cinismo e a mentira fossem as características  predominantes do modo de ser ideológico, político, social da maioria dos indivíduos como a que observo e experimento dentro dos EUA.

domingo, 13 de maio de 2012

Pensatas de domingo


Mais de uma vez recebi nesta última semana telefonemas e mensagens no meu correio eletrônico comentando a vitória de François Hollande (Partido Socialista) sobre Nicolas Sarkozy como se fosse uma grande conquista da esquerda!
Gente, o que houve ali até foi mesmo uma vitória da esquerda sobre a direita. Mas, notem bem, no âmbito da direita... Para ser mais claro é algo como se os democratas vencessem uma eleição nos EUA. Em outras palavras, em essência não muda nada. Apenas algumas medidas pró ou anti “assistência social” modificam-se para mais ou para menos.
E isto era o que estava a apavorar a população francesa após as medidas de austeridade de Sarkozy tomarem um certo peso. Perder certas regalias e conquistas como uma boa aposentadoria e outras benesses sociais seria de fato um retrocesso que fez o eleitor se inclinar pelo voto no socialista.
Fora isso... Como disse aqui quando da eleição de Obama nos EUA, tambem agora não espero muito do novo governo de “esquerda” prestes a se instalar no poder... Fora discurso e medidas de fachada. Como historicamente sempre comprovou a social democracia.

E a CPI do Cachoeira? Como numa cascata foram sendo arroladas mais e mais personalidades do mundo político nacional numa progressão assustadora. Se é que possa haver alguma coisa que ainda assuste na vida política deste país.
O pior mesmo é a “cêra” para de fato se iniciar o tão decantado inquérito do bicheiro. Existem mais partidos envolvidos do que imagina a nossa vã filosofia. Daí... É o tal caso: ”se correr o ‘bicho’ pega, se ficar o ‘bicho’ come!”

O presidente grego, Karolos Papoulias, deu início neste final de semana ao último esforço para tentar formar um governo de coalizão. Com o seu fracasso, a Grécia não terá alternativa senão convocar novas eleições.
Enquanto isso o ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, advertiu que a ajuda da UE (União Europeia) à Grécia poderá ser suspensa se esse país interromper o processo de reformas e descumprir os compromissos adquiridos. Tá feia a coisa na ponta mais pobre da Europa “unificada”.

Saiu na mídia que mais de 24% dos presos no Brasil estão ligados ao tráfico. Coi de loco!

E por falar em mídia, um movimento (minimamente divulgado) é o da “Primavera Global” que está a começar a partir de hoje e se estende até terça feira em várias cidades e países de todos os continentes.
Em Portugal, por exemplo, num ato de incitamento à "desobediência civil", o denominado Grupo de Transportes dos Indignados de Lisboa desafia a que, entre os dias 12 e 15 de maio, se viaje nos transportes públicos sem pagar.

Uma ação assim, a Occupy espalhou-se espontaneamente no ano passado por inúmeras cidades dos Estados Unidos. Mudou radicalmente o discurso e fustigou a elite econômica com sua desafiante defesa das maiorias. Foi, para Noam Chomsky, “a primeira grande resposta pública a trinta anos de guerra de classes”. Em seu livro mais recente, Occupy, Chomsky debate os principais temas, questões e reivindicações que estão levando cidadãos comuns a protestar. Como se chegou a tal ponto? De que modo o 1% de mais ricos influencia as vidas dos outros 99%? Como se pode separar Política de Dinheiro? O que seria uma eleição genuinamente democrática?

Há pelo menos duas formas de enxergar a conferência Rio+20, que começa em pouco mais de um mês.
Uma delas é preparar-se para denunciar seu provável “fracasso”. Ao terminar o encontro, em 22 de junho, os chefes de governo terão desenhado um plano para deter o aquecimento global ou as diversas formas de devastação da natureza? Em quase todo o mundo, a política institucional está cada vez mais amarrada aos grandes negócios e capitais. Estes buscam valorizar-se ou por meio dos circuitos financeiros, ou dos velhos padrões de “desenvolvimento”. Sua lógica é o lucro máximo: não inclui buscar novas relações, sustentáveis e harmônicas, entre ser humano e natureza.
Por isso, a mera denúncia é radical apenas na aparência. Ela permite apontar culpados, mas não ajuda a deter o crime. Durante alguns dias, a grande exposição do evento na mídia garantirá algum alarido e desgaste dos governantes insensíveis. Depois a rotina das relações de produção e consumo atuais voltará a se impor.

A exemplo da Lei da Ficha Limpa, a campanha SUS+10 pretende coletar a assinatura de 1,5 milhão de brasileiros em pelo menos cinco estados para endossar um projeto de lei de iniciativa popular que obrigue o governo federal a destinar 10% de suas receitas brutas no Sistema Único de Saúde (SUS). O valor representa algo em torno de R$ 33,5 bilhões a mais no orçamento do Ministério da Saúde. Neste ano, a pasta sofreu contingenciamento de R$ 5 bilhões, ficando com R$ 72,1 bilhões.

A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta quinta feira (10) os sete integrantes da Comissão da Verdade que investigará crimes políticos nos chamados “anos de chumbo”.
Foram designados: Cláudio Lemos Fonteles, ex procurador geral da República; Gilson Langaro Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ); José Carlos Dias, ex ministro da Justiça; o jurista José Paulo Cavalcante Filho; a psicanalista Maria Rita Kehl; o professor Paulo Sérgio de Moraes Sarmento Pinheiro, que participa de missões internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU), inclusive a que denunciou recentemente violações de direitos humanos na Síria; e a advogada Rosa Maria Cardoso Cunha – que defendeu a presidente durante a ditadura militar.
Os nomes dos integrantes foram publicados no Diário Oficial da União (DOU) nesta sexta feira (11) e a Comissão deve ser instalada no próximo dia 16, às 11h, em uma cerimônia com a presença dos ex presidentes eleitos após a ditadura.

É importante tambem lembrar que dona Dilma vete o novo Código Florestal, que perdoa os latifundiários desmatadores, fruto do lobby da bancada ruralista.

domingo, 6 de maio de 2012

Pensatas de domingo sobre elas mesmo

Clique e amplie para uma leitura melhor

Tenho postado pouco. Muito pouco mesmo; e fico a pensar o quanto é difícil manter determinadas práticas em momentos mais difíceis, seja por falta de tempo, seja por motivação ou qualquer tipo de imprevisto que surja na vida. E refiro-me precisamente a este blogue... A essas pensatas de domingo que se transformaram com o passar dos anos em uma rotina quase que obrigatória.
O fato é que os referidos textos dominicais, tenho conseguido manter... E por força do hábito e do costume, no sábado ponho-me a pensar nelas.
Hoje, por acaso vou falar das publicações e de seus leitores.
Acessei as estatísticas do meu blogue ontem às 11 da manhã. Já haviam comparecido ao dito site 61 pessoas. No dia anterior haviam sido 107 no total. No entanto, comentários, nenhum! Conclui-se que o universo de comentaristas é realmente muito pouco. Muitos leitores não gostam mesmo... Outros nem sabem que podem comentar, creio eu. Simplesmente porque não conhecem a mecânica que possibilita a ação.
Não que o comentário seja fundamental. Pela simples razão que os números se revelam promissores para uma página que não tem publicidade nem promoção alguma, considero o total bastante expressivo, já que no mês anterior a totalidade inclui 3.756 leitores. É uma média de mais de 120 por dia... Muito bom!
O importante é concluir que se está sendo lido. Isto sim! E ainda vejo e acompanho outros blogues que têm muito mais seguidores e cujos comentários tambem são poucos. Quer dizer, o ato de comentaer não corresponde ao total de leitores, nem mesmo aos que os seguem.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Um conto em dois tempos


Jorge Vital de Brito Moreira, o Professor Moreira, nos envia este excelente conto. Leia-o com atenção...

A DUPLA VIA CRUCIS DO CORPO QUE MENTE

            Porra! Não é a primeira vez! No passado aconteceu com uma mexicana! Quando a conheci me atraiu os olhos verdes e o olhar enigmático. Imaginei que podia ser uma pessoa interessante e que valeria uma aventura amorosa com ela.

Dali começou o romance, ainda que, naquele tempo, ele andasse metido numa ligação conflitiva com uma colombiana: uma relação apaixonada, sensual e destrutiva mas que persistia por 4 anos. 

Quando foi à cama com a dos olhos verdes, descobriu que seu corpo era bem diferente do que imaginara.  Era a primeira vez que teve que fazer um grande esforço de concentração para impedir que a decepção visual arruinara o sexo a dois.

            Suspendeu as lembranças, levantou-se e abriu a porta do quarto. Caminhava para a sala quando o telefone tocou. Levantou o gancho e colocou no ouvido. Como de costume, ela perguntou-lhe se não queria jantar fora. “Não, não e não”, e desligou. Sentou no assento de madeira, ligou o computador e começou a escrever.

Que caralho de vida!

Naquele tempo, colocava uma grande dose de entusiasmo para que seu corpo não recusara o dela. Com pouco surgiu o desinteresse, o tédio e a repulsa. E começou a racionalização: porque  tinha os peitos caídos... porque  não tinha pernas bonitas... porque  tinha um cheiro enjoado... porque não tinha a bunda das baianas.

Porra! Porque essa intensa paixão pelos corpos jovens e bem proporcionados das meninas das praias da Bahia? Porque este anseio estético? Não consigo entender; necessito escrever.

Sentiu o desconforto da madeira na bunda. Ergueu-se, procurou e encontrou uma almofada para amaciar o traseiro. Voltou a sentar diante do computador.

Que merda de situação!

Chegou á conclusão de que já não podia continuar fazendo sexo com ela. Aí apareceu uma conversa  cretina do tipo "não estou interessado em sexo, só estou interessado em ternura". Ou então dizia-lhe "não posso manter  uma relação amorosa com você; o que eu posso oferecer-lhe é uma boa amizade".
           Então a conversa transformou-se em pura racionalização que tratava de justificar a agressão passiva. Dizia-lhe "pensei que nossa transação ajudaria a me livrar da colombiana mas nada disso aconteceu. Sei que é difícil admitir, mas confesso-lhe que ainda sigo apaixonado por ela." 

Quanto mais tentava explicar-lhe o que estava passando, mais as suas palavras, implícita ou explicitamente, rejeitavam a relação. Ele falava e falava, horas e horas tratando de justificar-se. Algumas vezes ela chorava; ele também. No final de cada encontro, sentiam-se cansados, tristes, deprimidos e impotentes.

O alarma tocou na porta da frente e ele foi atender. Era seu vizinho. Perguntou-lhe se não queria ver o jogo de futebol. “Não, obrigado...” e voltou ao computador.

Porra! Não posso ter paz nesse apartamento. Porque as pessoas estão sempre me interrompendo?  Onde é que eu estava mesmo? Ah! Como ela ficou golpeada: viveu tudo aquilo como uma imensa rejeição. Nem era para menos. Ela entregou-se à relação. Enamorou-se.  Deu tudo que tinha. Havia feito planos. Sua vida que era triste e sem sentido, de repente iluminou-se. Quando tudo parecia ir de vento em popa, o desgraçado decidiu cair fora do barco.

 "Porque? Quem sabe... ele se explicou algumas vezes mas  ela não sabia si o que ele contou era a verdade"...  Ele era um sedutor irresponsável, um sujeito leviano com as palavras, um típico criador de ilusões nos corações femininos".

O Telefone tocou. Ele atendeu. Um amigo o convidava para ir ao cinema. “Não, quero ficar sozinho, mas muito obrigado...”

Porra! Por prometer coisas que  não podia cumprir, agora me sinto culpado.  Sou um irresponsável... um cara agressivo e desumano, que causa a dor de tanta gente... Sou um miserável insensível... um tipo egoísta que nunca pode parar de ferir as pessoas que me amam...


Algumas vezes, por querer seguir no poder, ele se sentia como um vil prostituto. Na realidade, era apenas um estudante que tratava de escrever a sua tese de pos graduação. Para complicar a história, vivia longe do Brasil e estava exilado, fugido da ditadura militar do seu país.

Putos tempos difíceis.

Atualmente, conseguiu um trabalho e se sente algo útil.  Trabalha como professor para uma universidade dos EUA and it's okay.  Claro que não representa tudo o que ele desejaria ser mas está contente de viver na gringolandia, pelo menos por enquanto. 
Ele acredita que não deveria desperdiçar a oportunidade de ser alguém nesta vida. Ser alguma coisa positiva neste mundo, independentemente do coração das mulheres.

Porra! algo me perturba. Estou me repetindo. Está acontecendo outra vez...

O telefone tocou, ele não atendeu. O ruído insistiu, insistiu, insistiu. Por fim atendeu e era ela. Perguntou-lhe se não queria sair ou algo parecido. “Não, não e não”, disse ele. Então perguntou-lhe se queria falar por telefone. Ele disse que sim e começou a ler o que tinha escrito:


A DUPLA VIA CRUCIS DO CORPO QUE NÃO MENTE

            Porra! Não é a primeira vez! No passado aconteceu com uma mexicana! Quando a conheci me atraiu os olhos verdes e o olhar enigmático. Imaginei que podia ser uma pessoa interessante e que valeria uma aventura amorosa com ela.

Dali começou o romance, ainda que, naquele tempo, ele andasse metido numa ligação conflitiva com uma colombiana: uma relação apaixonada, sensual e destrutiva mas que persistia por 4 anos. 

Quando foi à cama com a dos olhos verdes, descobriu que seu corpo era bem diferente do que imaginara.  Era a primeira vez que teve que fazer um grande esforço de concentração para impedir que a decepção visual arruinara o sexo a dois.

            Suspendeu as lembranças, levantou-se e abriu a porta do quarto. Caminhava para a sala quando o telefone tocou. Levantou o gancho e colocou no ouvido. Como de costume, ela perguntou-lhe se não queria jantar fora. “Não, não e não”, e desligou. Sentou no assento de madeira, ligou o computador e começou a escrever.

Que caralho de vida!

Naquele tempo, colocava uma grande dose de entusiasmo para que seu  corpo não recusara o dela. Com pouco surgiu o desinteresse, o tédio e a repulsa. E começou a racionalização: porque  tinha os peitos caídos... porque  não tinha pernas bonitas... porque  tinha um cheiro enjoado... porque não tinha a bunda das baianas.

Porra! Porque essa intensa paixão pelos corpos jovens e bem proporcionados das meninas das praias da Bahia? Porque este anseio estético? Não consigo entender; necessito escrever.

Sentiu o desconforto da madeira na bunda. Ergueu-se, procurou e encontrou uma almofada para amaciar o traseiro. Voltou a sentar diante do computador.

Que merda de situação!


Chegou á conclusão de que já não podia continuar fazendo sexo com ela. Aí apareceu uma conversa cretina do tipo "não estou interessado em sexo, só estou interessado em ternura". Ou então dizia-lhe "não posso manter  uma relação amorosa com você; o que eu posso oferecer-lhe é uma boa amizade".

           Então a conversa transformou-se em pura racionalização que tratava de justificar a agressão passiva. Dizia-lhe "pensei que nossa transação ajudaria a me livrar da colombiana mas nada disso aconteceu. Sei que é difícil admitir, mas confesso-lhe que ainda sigo apaixonado por ela." 

Quanto mais tentava explicar-lhe o que estava passando, mais as suas palavras, implícita ou explicitamente, rejeitavam a relação. Ele falava e falava, horas e horas tratando de justificar-se. Algumas vezes ela chorava; ele também. No final de cada encontro, sentiam-se cansados, tristes, deprimidos e impotentes.

O alarma tocou na porta da frente e ele foi atender. Era seu vizinho. Perguntou-lhe si não queria ver o jogo de futebol. “Não, obrigado...” e voltou ao computador.

Porra! Não posso ter paz nesse apartamento. Porque as pessoas estão sempre me interrompendo?  Onde é que eu estava mesmo? Ah! Como ela ficou golpeada: viveu tudo aquilo como uma imensa rejeição. Nem era para menos. Ela entregou-se à relação. Enamorou-se.  Deu tudo que tinha. Havia feito planos. Sua vida que era triste e sem sentido, de repente iluminou-se. Quando tudo parecia ir de vento em popa, o desgraçado decidiu cair fora do barco.

 "Porque? Quem sabe... ele se explicou algumas vezes mas  ela não sabia si o que ele contou era a verdade"...  Ele era um sedutor irresponsável, um sujeito leviano com as palavras, um típico criador de ilusões nos corações femininos".

O Telefone tocou. Ele atendeu. Um amigo o convidava para ir ao cinema. “Não, quero ficar sozinho, mas muito obrigado...”

Porra! Por prometer  coisas que  não podia cumprir, agora me sinto culpado.  Sou um irresponsável... um cara  agressivo e desumano, que causa a dor de tanta gente... Sou um miserável insensível...  um tipo egoísta que nunca pode parar de ferir as pessoas que me amam...


Algumas vezes, por querer seguir no poder, ele se sentia como um vil prostituto. Na realidade, era apenas um estudante que tratava de escrever a sua tese de pos graduação. Para complicar a história, vivia longe do Brasil e estava exilado, fugido da  ditadura militar do seu pais.

Putos tempos difíceis.

Atualmente, conseguiu um trabalho e se sente algo útil.  Trabalha como professor  para uma universidade dos EUA and it's okay.  Claro que não representa tudo o que ele desejaria ser mas está contente de viver na gringolandia, pelo menos por enquanto. 
Ele acredita que não deveria desperdiçar a oportunidade de ser alguém nesta vida. Ser alguma coisa positiva neste mundo, independentemente do coração das mulheres.

Porra! algo me perturba. Estou me repetindo. Está acontecendo outra vez...

O telefone tocou, ele não atendeu. O ruído insistiu, insistiu, insistiu. Por fim atendeu e era ela. Perguntou-lhe se não queria sair ou algo parecido. “Não, não e não”, disse ele. Então perguntou-lhe se queria falar por telefone. Ele disse que sim e começou a ler o que tinha escrito: