domingo, 15 de outubro de 2017

Pensatas (preocupantes) de Domingo


Diante da repercussão dos pronunciamentos do general Mourão sobre uma nova intervenção militar no país para conter a corrupção caso as instituições políticas não consigam resolver a situação, um jornal foi atrás de respostas para questões sobre o tema que achei interessantes e transcrevo abaixo:

A Constituição prevê possibilidade de intervenção militar “constitucional”?
Sim, mas não para tirar os políticos do poder com o objetivo de “limpar” o país da corrupção. Isso seria um golpe de Estado.
A Constituição Federal prevê, nos artigos 15 e 142, que as Forças Armadas podem ser acionadas, pelo presidente da República a pedido de qualquer um dos três poderes, para garantir a lei e a ordem. A Constituição não estabelece quais seriam essas situações, mas há certo consenso de que se trata de casos de segurança pública, graves distúrbios e ameaça externa.
Esses artigos constitucionais costumam ser citados por defensores de uma intervenção política dos militares como argumento para justificar que a tomada de poder pelas Forças Armadas teria base constitucional. Não tem. Além de a Constituição prever que o comando continua a ser dos civis nesses casos, é preciso destacar que Exército, Marinha e Aeronáutica só podem ser acionados para garantir a ordem constitucional – e não para subvertê-la.
A Constituição também estabelece, no artigo 5.º, que é crime inafiançável a ação de militares contra a ordem constitucional e a democracia.

Existe a possibilidade real de ocorrer um golpe militar no país?

Em princípio, não há possibilidade iminente. Mas há alguns elementos que sugerem que alguma chance existe e não é mera teoria da conspiração.
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, foi enfático ao negar a possibilidade de haver articulação ou desejo na corporação de intervenção no país. “Desde 1985 não somos responsáveis por turbulência na vida nacional e assim vai prosseguir. Além disso, o emprego nosso será sempre por iniciativa de um dos poderes [Executivo, Legislativo ou Judiciário]”, afirmou.
Apesar disso, uma declaração do general Mourão insinua que o discurso oficial não é exatamente o que pensa o comando. Ele disse que o Exército tem “planejamentos muito bem feitos” para uma intervenção no país.
Além disso, praticamente todos os presidentes posteriores à ditadura trataram os militares (e seus interesses) com muita cautela – o que demonstra certo receio em desagradar a caserna.

Qual a representatividade do general Mourão no Exército?

O general Mourão ocupa um cargo importante. Desde 2015, é secretário de economia e finanças do Exército. Mas ele tem um perfil de polemista que desagrada diversos outros oficiais.
Sua transferência para a função atual, mais burocrática do que operacional, já havia ocorrido porque ele se envolveu em outra polêmica política. Quando ocupava o Comando Militar do Sul, criticou a então presidente Dilma Rousseff ao ser questionado sobre o impeachment. Disse, à época, que “a mera substituição da presidente da República não trará mudança significativa no status quo” e que “a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. Além disso, promoveu uma homenagem póstuma ao coronel Brilhante Ustra, condenado pela Justiça por tortura durante o regime militar.

Os militares, na hipótese de voltarem ao poder, “consertariam” o país?

Qualquer afirmação seria mera futurologia. Em geral, imagina-se que os generais tenham um alinhamento com a direita. Mas não se sabe exatamente qual seria o projeto político dos comandantes das Forças Armadas para o país: o que pensam sobre economia, investimentos sociais, nem mesmo o que fariam para “acabar” com a corrupção e para tirar o país da crise política.
Apesar disso, é possível especular, com boa dose de base factual, que a “intervenção saneadora” dos militares iria acirrar a crise política, com possíveis efeitos na economia. Os oposicionistas denunciariam o golpe e trabalhariam para restabelecer a ordem constitucional. Greves poderiam ser deflagradas.
Isso só não iria ocorrer se houvesse repressão. E, nesse caso, o custo de supostamente “consertar” o país seria levar a nação a uma ditadura. E, como ocorreu após 1964, o acirramento do regime poderia levar o país a um conflito armado interno.
Além disso, o governo militar, para ter um mínimo de estabilidade, também teria de estabelecer alianças com segmentos da sociedade, inclusive com lideranças políticas – o que derrubaria o argumento de que as Forças Armadas iriam “limpar” o país dos políticos. A ditadura militar, por exemplo, fechou essas alianças. Inclusive com políticos que se envolveram em suspeitas de corrupção – Paulo Maluf é um exemplo.
Também é improvável que um regime militar conseguisse acabar com a corrupção – no máximo iria conseguir diminuí-la. É preciso lembrar que também houve casos de corrupção no período da ditadura que vieram a público apesar da censura que existia à época.

Dentre os defensores da ideia da intervenção militar há quem pregue a necessidade de as Forças Armadas tomarem o poder para sanear o país rapidamente e, para logo depois, devolver o governo aos civis. O golpe de 1964 começou com esse discurso. E os militares só entregaram o poder aos políticos em 1985. E o Brasil que teve de ser administrado pelos civis estava em péssima situação econômica, com inflação alta e dívida externa crescente. E a corrupção não havia acabado.

domingo, 8 de outubro de 2017

Pensatas de Domingo. O “caso” do Nelson Rodrigues



Este texto foi publicado no Jornal do CCRJ (Clube de Criação do Rio de Janeiro) em 1998 e no blogue “Casos da Propaganda” em 2006.

A campanha de TV do Banco Nacional naquele ano de 1979 ficou inédita. Quer dizer, na verdade entrou no ar uma colcha de retalhos com cenas - nada inéditas, se bem que inesquecíveis -  de filmes que marcaram época na história do banco. Até aí tudo bem. Afinal era uma campanha de aniversário e o que foi pro ar não deixou a gente envergonhado não. Mas é que a campanha original, a que o Favilla(1) e eu tinhamos bolado era simplesmente do caralho. Tinha depoimentos de pessoas que estiveram de alguma forma envolvidas com um banco que sempre apoiou a cultura, os esportes, etc. Entre elas João Saldanha, Grande Otelo e Nelson Rodrigues. E com um detalhe: a gente produziu parte da campanha em vídeo somente para mostrar ao cliente.

A gravação do Grande Otelo por exemplo foi tão emocionante que deixou gente chorando e arrepiada. Foi desses momentos inesquecíveis. A do João Saldanha teve uma característica marcante que foi o seu cronômetro mental. A gente pedia: fala aí 10 segundos e ele falava 10 segundos. Depois a gente pedia para ele falar 35 segundos e ele falava os 35 segundos cravados. Foi uma coisa fantástica.

Mas o melhor mesmo foi o dia em que nós fomos fazer o vídeo com o Nelson Rodrigues. Foi tudo marcado no apartamento dele lá no Leme. Chegamos pontualmente na hora marcada. Aquele clima de se estar na casa de um gênio era uma coisa emocionante. Entramos e lá estava o dito cujo sentadão numa poltrona, com aquela voz que ninguém igualou até hoje. Aquele falar compassado, aquele tom cavernoso. O pessoal da produtora montando toda a parafernália de som e luz. Um puta dum reboliço no ar.

De repente Nelson, o próprio, o dito cujo, himself, diz que queria ver o texto do comercial. E ele enfiou a cara no texto. Leu, releu, parou, olhou em todas as direções e perguntou: “De quem é esse texto?”. Favilla levantou-se e encaminhou-se à mesa da sala de jantar, onde o mestre estava sentado. Humildemente, tal qual fosse um aluno na sala de aula levantou o dedo e disse que era dele. Ele virou-se lentamente na sua direção e retrucou: “Esse texto tem um problema grave...”. - Todos gelaram atônitos. - “...Nelson Rodrigues não é um dos maiores autores de teatro do Brasil... Nelson Rodrigues é o maior autor de teatro do Brasil!”. Finalizou, olhando em torno com ar desafiante. Foi um tal de conserta daqui, pigarreia dali, até que o silêncio instalou-se por alguns infindáveis segundos na sala.

O que se seguiu foi um tentar desfazer o que se tinha feito, um jogar panos quentes, uma sucessão de justificarivas e sorrisos amarelos, “não é nada disso” e por aí afora. E a gente vendo a hora do cara falar “não ga-ra-vo” no melhor estilo Alberto Roberto(2). O que afinal de contas e graças aos deuses, ou sei lá o quê, acabou não acontecendo. Ufa!

Bom, a verdade é que, alterado o texto, o comercial foi gravado e ficou supimpa. Como aliás ficou toda aquela campanha que acabou não saindo. Well, as a matter of fact eu sei lá quantas campanhas do cacete a gente cria e não vão para o ar. Faz parte da vida de publicitário. A Y&R tem até uma premiação interna em Nova Iorque para esse tipo de trabalho. Mas a verdade é que dói quando eu me lembro desta inédita na minha vida. E na do Favilla, do Eugênio e sua produtora. Enfim... coisas da propaganda.

1. O redator que trabalhava comigo.

2. Como falava um personagem do Chico Anisio naqueles tempos.

domingo, 1 de outubro de 2017

Imperialismo, luta de classes e luta racial na música de Jimi Hendrix



Jorge Vital de Brito Moreira

Meu amigo,
            Como jovem guitarrista, você me pergunta o que eu penso de Jimi Hendrix como músico, compositor, guitarrista; em poucas palavras, o que eu penso de Hendrix como um criador e produtor internacional de cultura popular, dentro da área da musica pop, do blues e do rock tanto estadunidense como mundial.
Não tenho uma resposta elaborada para a sua pergunta, mas acredito que uma resposta adequada deveria incluir tanto a dimensão artístico musical como a dimensão ideológico política porque a existência das contradições decorrentes da luta de classes e da luta racial nos EUA, denunciada e expressada pela música de Jimi Hendrix, continuam aprofundando-se na atual conjuntura  sócio-econômico-politica do povo estadunidense.
Do ponto de vista ideológico político, a vitória do milionário supremacista, racista, guerreirista  Donald Trump ao governo dos EUA, colocou mais lenha na fogueira da guerra de classes e na guerra racial (que já vinha ardendo a altas temperaturas desde a fracassada presidência de Barack Obama)  já que os supremacistas brancos dos EUA se sentem empoderados com a eleição de Trump.
 Um dos momentos significativos dessa atual conjuntura, foi a recente decisão individual do jogador de futebol americano/mulato Colin Kaepernick de se ajoelhar, antes de cada jogo, durante a execução do hino estadunidense para protestar contra a opressão, a desigualdade e a brutalidade racial das pessoas negras e de outras minorias, que geraram um conjunto de respostas de atletas, políticos, jornalistas e do público em geral, com muitos o apoiando (incluindo outros jogadores e ativistas) enquanto outros afirmavam que ele desrespeitava a bandeira e a honra da nação.
O presidente Trump, durante um comício no estado do Alabama, criticou os protestos dizendo que os jogadores que realizavam esses protestos eram "filhos da puta", além de agressivamente denominar o gesto de "antipatriótico", defendendo que os times deveriam demitir quem se recusar a ficar de pé durante a execução do hino nacional.
Voltarei ao hino norte americano e a dimensão ideológica e politica da música de Jimi Hendrix um pouco mais adiante neste texto, mas agora, neste  ponto, eu gostaria de mencionar que  como um amante fiel da música popular e erudita (clássica) que sou, tenho acumulado algumas experiências e algum conhecimento sobre a história da música executada pela guitarra (acústica e elétrica) durante o século XX: por essas razões, poderia dar-lhe uma resposta que penso  teria algum interesse para você e para alguns outros interessados no assunto.
Do ponto de vista da minha experiência pessoal, comunico-lhe que estudei violoncelo e guitarra acústica (violão) no Brasil e que atualmente continuo praticando o violão, o piano, o baixo elétrico e a harmônica, não somente dentro, mas também fora de casa: em shows e pequenos concertos realizados no México e nos EUA, onde, em geral, tenho tocado e interpretado música brasileira, latinoamericana, estadunidense e inglesa.
Do ponto de vista do meu conhecimento e prática como professor e crítico da cultura, tenho estado analisando as relações entre cultura, ideologia, estética e política que são expressadas, explícita ou implicitamente, na música, na literatura, no cinema ou em qualquer outro discurso cultural produzido dentro do sistema capitalista de produção da nossa sociedade  ocidental. Naturalmente que tanto no caso da literatura, do cinema ou de outro discurso cultural, a crítica musical que me interessa deve tratar de elaborar considerações sobre a linguagem musical e sobre as características formais desta arte, se nossa intenção é a de esclarecer, através da crítica didática, aos diferentes tipo de ouvintes desta arte magistral.
Assim, desde os dois pontos de vista mencionados acima, eu lhe responderia, que nunca escutei, nem tenho escutado; que nunca assisti, nem tenho assistido a nenhum artista da guitarra elétrica (ou acústica) comparável  criativa e tecnicamente a Jimi Hendrix. Posso lhe assegurar que já escutei e tenho escutado a grandes artistas deste instrumento, a verdadeiros virtuoses da guitarra acústica (como os brasileiros Rafael Rabello, Baden Powell, os espanhóis  Andrés Segovia e Paco de Lucia) e da guitarra elétrica da musica de blues e rock  (como Eric Clapton, Stephen Ray Vaughan, Jimmy Page),  da música de jazz e de blues (como Charlie Christian, Django Reinhardt, West Montgomery, Joe Pass, George Benson) mas nunca ouvi, assisti, nem tomei conhecimento de um artista tão genial na criação e execução musical da guitarra como o falecido Jimi Hendrix.
Eu ainda gostaria de sugerir que desde o especifico ponto de vista das relações entre cultura, ideologia, estética e política, seria imprescindível que você assistisse a apresentação de Jimi Hendrix no filme sobre o Festival de Woodstock de 1969 para obter uma imagem estupenda da absoluta grandeza criativa, técnica e expressiva de Jimi Hendrix: Você poderia observar como Hendrix utiliza a guitarra para denunciar, numa linguagem exclusivamente sonora, a guerra e a política militarista do sistema capitalista imperialista contra a população do Vietnã do Norte.
Em relação a esta apresentação de Hendrix, gostaria de relembrar e descrever rapidamente (mesmo com as limitações da palavra escrita) uma sequência de cenas de uma parte da longa apresentação e exibição de Jimi Hendrix que se encontra neste filme do Festival de Woodstock.
Nessa sequência de cenas, o artista Jimi Hendrix está no palco acompanhado por sua nova banda “Gypsy Sun and Rainbows” formada por cinco músicos: Bill Cox no baixo elétrico, Mitch Michell na bateria, o guitarrista Larry Lee, os percussionistas Juma Sultan and Jerry Velez. Hendrix está vestido numa jaqueta indígena azul e branca com franjas das mesmas cores de estilo apache, usa calças blue jeans e tem na cabeça uma faixa (bandana) vermelha sobre o cabelo preto estilo black power. No seu pescoço, vemos um colar de couro com um broche de esmeralda, nas orelhas, duas argolas de prata e dois anéis: o menor na mão direita, o maior na mão esquerda. Jimi tem entre as mãos, uma guitarra Fender Stratocaster branca, pendurada do seu pescoço por uma colorida correia vermelha e branca.
A presença colorida e multiculturalista de Hendrix no palco do Festival de Woodstock já mostrava o lado político, social, econômico e racialmente oprimido não somente do próprio guitarrista Hendrix, mas de uma parte significativa da população estadunidense. Assim, a maneira de vestir de Hendrix no palco expressava e sintetizava a imagem das contradições e dos conflitos políticos, econômicos, sociais e militares que eram escondidas pela imagem da bandeira dos EUA nos anos 60: uma bandeira que representava claramente a decadência dos valores humanos da nação estadunidense simbolizada pela guerra imperialista contra o Vietnã.
Diante deste contexto histórico, Jimi Hendrix surpreende os espectadores e ouvintes quando subitamente para de tocar suas composições musicais do gênero  blue, rock, pop e começa a solar, numa guitarra branca,  as primeiras notas da melodia de “Star Spangled Banner” (A Bandeira Estrelada), o hino nacional dos Estados Unidos da América.
Segundos depois de iniciado o solo, Jimi abandona a acostumada linha melódica da primeira estrofe do hino e parte para  a transformação da segunda estrofe, alterando a sua linha melódica, desconstruindo lenta e sistematicamente suas partes super conhecidas (que são sempre cantadas e tocadas em todas as cerimônias civis, militares ou desportivas dos EUA) até converte-la na sonoridade  terrorífica das bombas, dos gritos e dos gemidos produzidos pela  guerra dos EUA contra o povo vietnamita.
Musicalmente, Hendrix representa a tragédia humana da guerra imperialista através de técnicas guitarristicas (muitas das quais ele inventou e/ou aperfeiçoou) que eram pouco conhecidas e/ou utilizadas durante os anos 1960.

Através da linguagem intrínseca e exclusivamente musical da guitarra elétrica, Jimi Hendrix faz artisticamente uma das maiores denúncias político-sonoras do imperialismo no século XX: uma denuncia que é equivalente no plano cultural à denuncia político-pictórica de Pablo Picasso da tragédia espanhola causada pelo fascismo franquista na guerra civil espanhola no seu painel “Guernica”.

Logicamente que depois da execução/desconstrução do Hino “Star Spangled Banner”, a direita politica conservadora dos EUA (furiosa com o desmascaramento do imperialismo estadunidense), manipulou as imagens (circenses) de Hendrix no concerto do Festival de Monterrey, e começou a denegrir (através da  mídia corporativa) o extraordinário talento musical de Jimi Hendrix classificando-o de palhaço da guitarra e drogado (1).

Apesar da propaganda contra Hendrix e de sua performance circense (Jimi podia tocar a guitarra com a mão esquerda, com as cordas invertidas, podia tocar enquanto a guitarra se encontrava nas suas costas, podia tocá-la com  seus dentes, podia tocá-la enquanto dava cambalhotas  no palco como um equilibrista de circo, e  no final da sua apresentação no Festival de Monterrey, Jimi, depois de atear fogo na sua guitarra, despedaçou o instrumento no chão do palco, jogando os restos da guitarra para a platéia), alguns dos maiores guitarristas do século XX (Pete Townshend, Eric Clapton, Jeff Beck) e muitos outros gênios musicais da música de  Jazz (como Miles Davis e Gil Evans), afirmaram, depois da apresentação de Hendrix no Festival de Monterrey, que nenhum artista podia tocar a guitarra como Jimi Hendrix: alem de ser um solista fantasticamente talentoso, do “outro mundo”, sua técnica e sua criatividade, estavam muitos anos na frente dos melhores do seu tempo.

Apesar da relativa perda da importância do papel político do intelectual/cultural defensor dos pobres e dos oprimidos (tais como os revolucionários Karl Marx, Lenin, Trostky, Che Guevara, Gramsci, Lukacs, Sartre, Franz Fannon, Carlos Mariguela, Paulo Freire, Manuel Sacristán...) dentro dessa etapa de capitalismo neoliberal e globalizado dos nossos dias, me parece sumamente importante reivindicar e revitalizar  a importância desse trabalho intelectual (teórico e prático) não somente no plano da filosofia, da literatura, da política, mas  também reivindicar e revitalizar a importância do trabalho no plano artístico, musical-ideológico-político ante o sistema capitalista, de artistas como Jimi Hendrix, John Lennon e Frank Zappa (2).

A trajetória inteira desses  extraordinários intelectuais e artistas da área musical, literária, pictórica e cinematográfica, sempre estiveram na mira da guerra cultural que a CIA e as ditaduras (no Brasil e na América Latina) estabeleceram na defesa do imperialismo norteamericano contra os movimentos de emancipação político-sócio-econômica-cultural do período: a luta dos povos oprimidos pelo socialismo, do movimento Black Power, do movimento pelos direitos civis, pela liberação das mulheres, do movimento Underground, do movimento Hippie e outros movimentos contraculturais de emancipação social e humana.

 

NOTAS

1) Eu concordo com  o livro Addiction treatment (2018) de  Van Wormer e Davis quando declara que "Richard Nixon foi o primeiro presidente estadunidensa a declarar a "guerra contra as drogas", e que esta foi uma estratégia planejada para se separar da “guerra contra a pobreza" do liberal  Lyndon Johnson. Mas gostaria de ir além do livro de Van Wormer e Davis e afirmar que Nixon fez sua “guerra contra as drogas”, não só para tentar destruir a resistência do movimento contracultural da década de 1960 contra a Guerra do Vietnã, mas para ofuscar e ocultar sua notória imagem de criminoso de guerra, uma vez que ele foi o responsável pelos assassinatos de centenas de milhares de habitantes do Vietnã do Norte,  enviando milhares de soldados americanos para a morte durante a Guerra do Vietnã. O escritor britânico e jornalista de investigação, Christopher Robbins,  afirma em seu livro Air America (1985) que quando Nixon lançou a guerra ilegal no Camboja,  foi construída, dentro da sede da CIA no norte de Laos, uma nova instalação, onde o ópio em massa era refinado em heroína e enviada para o exterior.
O livro de Robbins, Air America (1985), foi transformado em um filme americano muito popular com o mesmo nome "Air America", estrelado por Mel Gibson e Robert Downey Jr., atores que pilotavam os aviões Air America da CIA, em missões voadoras no Laos, durante as guerras do Vietnã e do Camboja.
Até onde sabemos, o movimento contra cultural da década de 1960, formado por muitos movimentos progressistas  (Civil Rights, Anti-War moviment, Feminism moviment, New Left moviment, Hippie moviment entre outros) foi sistematicamente atacado e reprimido pelas autoridades estadunidenses: não só pelo criminoso Richard Nixon, que foi impedido (impeached) pelo Congresso dos EUA, mas também pelos seguintes presidentes dos EUA, Ronald Reagan, George Bush (pai), Bill Clinton, George W. Bush (filho) e Barack Obama. Agora é a vez de Donald Trump.

 

2) Infelizmente não posso colocar a trajetória de produtores musicais internacionais como Paul McCartney, Mick Jagger, por exemplo, na mesma categoria  em que se encontram Jimi Hendrix, John Lennon, e Frank Zappa, porque desde meu ponto de vista político-ideológico, foram cooptados pelo sistema capitalista ou capitularam  diante da ideologia neoliberal e globalizada contra os movimentos de emancipação de seres humanos oprimidos pelo imperialismo internacional. Vejam por exemplo o caso das posições reacionárias do ex Beatle Paul McCartney defendendo verbalmente a política criminal e genocida do ex-presidente George W. Bush em sua guerra contra o povo do Iraque, Afeganistão ou a posição de McCartney legitimando a política genocida e reacionária do ex-presidente Barack Obama, através da realização de concertos musicais na Casa Branca para o deleite de Obama e sua família. A posição político-ideológica de Mick Jagger e dos Rolling Stones é notoriamente contraditória porque depois de compor uma música de rock denunciando a hegemonia politica neo-nazista dos neo-conservadores judeus  (neo-con) durante a administração de George W. Bush, viajaram a Israel (o pais do apartheid colonizador e opressor  da população palestina) para realizar concertos musicais naquele país sionista.