segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Comandante Fidel Castro Ruz: ¡Hasta la victoria, siempre”! – Parte 2

“Retrato de Fidel”, Jonga Olivieri, novembro de 2016, 40x30cm


Continuação do texto do Professor Jorge Moreira, publicado ontem em “Pensatas de Domingo”.
  

Naquela noite, depois do desfile do povo cubano na Plaza da Revolução no Dia do Trabalho, amigos cubanos nos convidaram para uma festa de despedida numa casa da sua vizinhança. Para a festa, eles contribuíram oferecendo toda a comida para os convidados (o prato principal era uma perua, una pavita, no estilo hispano cubano) enquanto nós, brasileiros e latinoamericanos, contribuímos  comprando  muitas garrafas de rum cubano, de conhaque da Checoslováquia e da vodca da União Soviética. Naquela festa noturna, havia do bom e do melhor, e desfrutamos da companhia daquela gente humilde e hospitaleira que nos ensinavam alegremente a dançar os ritmos cubanos. Foi uma noite inesquecível e nos despedimos, saindo daquela casa, cantando coletivamente: “Guantanamera, guajira Guantanamera, Guantanamera, guajira Guantanamera. Yo soy un hombre sincero, De donde crecen las palmas. Yo soy un hombre sincero, De donde crecen las palmas, Y antes de morir yo quiero, Cantar mis versos del alma”…
  

Nossa experiência na ilha de Cuba foi tão gratificante e enriquecedora (politica, econômica e culturalmente), que ainda hoje, olhando retrospectivamente, sinto-me extremamente orgulhoso de ter vencido o medo e embarcado naquele avião mexicano que nos transportou para o país de Fidel e do povo cubano. Para mim, para Israel Pinheiro (e para os amigos e colegas que nos acompanhavam e não desistiram daquela travessia), o acidente se transformou simbolicamente numa poderosa prova de fogo no caminho de luta contra o sistema capitalista. E a partir daquele momento, daquela vivência singular, e daquele conhecimento concreto, compreendi que possuía todos os motivos para continuar defendendo Fidel, à revolução socialista cubana contra todos os ventos e marés (furacões, tempestades e ciclones) produzido pelo império dos EUA para destruir a gloriosa conquista do povo cubano.     

Lendo os poemas de José Martí e Nicolas Guillén, ouvindo as canções tradicionais de Cuba (“Guantanamera” por exemplo) e as modernas da Nova Trova Cubana, dançando os históricos ritmos musicais como o bolero, o chá-chá-chá, o mambo, a rumba, a salsa, o son montuno na festa cubana,  visitando em Havana os shows noturnos da boite Tropicana e da boite Pico Blanco (onde conhecemos pessoalmente o famoso compositor, César Portillo de la Luz, e cantamos juntos com ele, o seu inesquecível bolero “Contigo En La Distancia”), caminhando pelos campos e pelas cidades do país, observando as dificuldades, os obstáculos, os desafios da vida social na ilha, pudemos também compreender o processo de luta e superação que o povo tinha que realizar para sobreviver ao criminoso bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos.

Era quase inacreditável que Fidel e a revolução socialista tivessem resistido e sobrevivido heroicamente a todas as formas de sabotagens, a mais de 600 tentativas de assassinato da CIA, ao sistemático envenenamento da agricultura cubana, e a todas as invasões, como a “Invasão da Baía dos Porcos”, em abril de 1961, e à “Crise dos Mísseis de Cuba”, entre 16 e 28 de outubro de 1962, perpretadas pela guerra do governo dos EUA, e pelo gigantesco bloqueio econômico contra a Cuba socialista.   

Aproveito estas lembranças para perguntar aos leitores: sabem quantas vezes, e por quantos anos, a maioria quase absoluta dos países da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) teem denunciado o bloqueio contra Cuba como um comportamento  criminoso contra os direitos humanos do povo cubano? E, por quantas vezes e por quantos anos, a maioria quase absoluta desses países tem votado pelo fim do bloqueio dos EUA contra o povo de Cuba? Infelizmente, quase nada tem mudado no terrorismo de estado dos governos dos presidentes dos EUA (dos que se pretendem democráticos) contra a ilha de Cuba.

Desde que vivo nos EUA, e apesar de toda a propaganda massiva  a favor  dos nomes de homens que conquistaram a função de presidentes e líderes (George Bush, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama) do país mais poderoso do mundo, nenhum deles foi capaz de revelar a inteligência, o conhecimento, a sabedoria, a dimensão humana e a grandeza de estadista que tem sido a marca inesquecível do presidente Fidel Castro. Na manhã seguinte ao falecimento de Fidel Castro, decidi ligar os canais de TV da mídia corporativa  dos EUA, e verificar os tipos de comentários que emitiam sobre a morte do comandante cubano. Para mim não houve nenhuma surpresa. Nos grandes canais de TV dos EUA, repetiam a mesma farsa abominável de sempre: Fox News, MSNBC, CBS, Univisión, Telemundo, etc., todos esses canais repetiam a mesmíssima anacrônica propaganda contra Fidel e contra a Cuba socialista. Um exemplo: no meio de um discurso medíocre e miserável do ex-governador da Florida, Jebb Bush (o irmão mais novo do infame ex-presidente republicano George W. Bush), no meio de festivas imagens de conhecidos gusanos cubanos pagos pela máfia de Miami para celebrar a morte de Fidel, também apareciam as imagem de José Diaz-Balart e do seu irmão Lincoln Diaz-Balart (o chefe dos gusanos da Florida), ambos odiosos sobrinhos ressentidos de Fidel Castro Ruz. Fantasiado de repórter do canal Telemundo, José Diaz-Balard, então, tratava de representar o papel de jornalista neutro, justo e equilibrado: de um indivíduo capacitado para falar “imparcialmente” para a opinião pública estadunidense da vida de Fidel, da vida dos cubanos e da revolução socialista. Desliguei a TV para não vomitar no sofá da minha casa.   

Neste dia, o mais indignante ainda estava por chegar. Quando abri a página principal da Folha de São Paulo (o jornal brasileiro que muitos ingênuos ainda consideram “progressista”, de “esquerda”), sua manchete repetia, descaradamente, a manchete da mídia corporativa da direita dos EUA: “Ditador Fidel Castro morre em Cuba aos 90 anos”. É necessário recordar que a Folha de São Paulo é um jornal golpista (que apoiou o golpe de estado contra a presidenta Dilma Rousseff, eleita democraticamente pelos votos de mais de 54 milhões de brasileiros), que continua repetindo a mesma farsa abominável da mídia corporativa dos EUA: da mesma mídia que ajudou a administração de George W. Bush a propagar a mentira de que Saddam Hussein tinha bombas atômicas e nucleares para atacar o povo estadunidense. E é a mesma mídia que recentemente tratou de manufaturar o consenso do povo estadunidense propagandeando dentro e fora dos EUA, a descarada mentira de que Hillary Clinton já havia ganhado as eleições neste país do norte.   

Hoje, muitos sabemos que essa abominável e sistemática imoralidade da mídia corporativa ocidental a favor do terrorismo de estado dos EUA contra a população mundial, a tem transformado em cúmplice direto da tortura, dos crimes de guerra perpetrados pelos EUA contra milhões de seres humanos assassinados (ou refugiados) do Iraque, do Afeganistão, do Paquistão, da Síria, da Líbia. Para aqueles que temos conhecimento dos documentos que demonstram o genocídio e os crimes de guerra dos governos ditatoriais dos EUA sobre o povo de Hiroshima, Nakasaki, Vietnã do Norte, Iraque e outros povos, sabemos que faz parte da politica  terrorista deste país, demonizar o comandante Fidel Castro como “ditador”. Por que? Porque sabemos que este processo de demonização de Fidel Castro como “ditador cubano” foi iniciado pela mídia ocidental devido a Fidel não ter se submetido ao poder da ditadura imperial estadunidense.  


            Falando nisso, acabo de lembrar-me de uma entrevista realizada pela revista Playboy com Fidel Castro no ano de 1985. Naquele momento histórico, o ex-presidente Ronald Reagan era identificado na América Latina, como “o carniceiro da Nicarágua” por estar patrocinando o assassinato de milhares de nicaraguenses causado  pela guerra dos contra-revolucionários nicaraguenses  contra o povo daquele pequeno país centroamericano.  Nessa entrevista, Fidel Castro foi perguntado pela descrição que Ronald Reagan fazia dele  como um ditador militar implacável.  Fidel Castro, um homem estudioso de história, de economia política, de literatura e linguística (extremamente diferente do um ator de filmes “B” medíocre e ignorante como Ronald Reagan), respondeu: "Se ser um ditador significa governar por decreto, então você poderia usar esse argumento do Reagan para acusar o Papa de ser um ditador. "Se o poder de um presidente inclui algo tão monstruosamente antidemocrático como a capacidade de ordenar uma guerra termonuclear, eu me pergunto: Quem é mais ditador, o Presidente dos Estados Unidos ou eu?"
  

Atualmente, um dos mantras ideológicos repetidos pelo discurso anti-Cuba propagandeia o seguinte: a decisão presidencial de restabelecer relações diplomáticas/politicas com Cuba por parte do presidente Barack Obama foi um erro e o presidente tem sido extremamente tolerante e complacente com a “ditadura” em Cuba.   

Mas, apesar da propaganda (a favor ou contra) o restabelecimento de relações diplomáticas e da visita do presidente Barack Obama a Cuba, a tortura em Guantánamo e o bloqueio econômico continuam a todo vapor, dando continuidade ao gigantesco terrorismo histórico contra o povo cubano. É por isso que não podemos permitir que a mídia corporativa dos EUA e do Brasil continuem tratando de nos enganar, pois hoje também sabemos que a "democracia" americana é uma farsa sangrenta e que a maioria dos deputados e senadores dos EUA (democratas e republicanos) representam unicamente os interesses dos milionários estadunidenses (de menos de 1% da população dos EUA) que não toleram a existência de uma Cuba socialista a 100 milhas da Flórida.  

Mas apesar dessa farsa sangrenta que produz quotidianamente a história do capitalismo e do imperialismo dos EUA no planeta terra, existe uma história   e uma viva galeria de nomes de grandes heróis que dedicaram suas vidas em pról da libertação de seres humanos dominados, explorados e oprimidos pelo capitalismo. Neste teatro histórico e nesta galeria vital,  estão e estarão incluídos os nomes imprescindíveis  dos verdadeiros lideres da humanidade: Karl Marx, Vladimir Lenin, Leon Trotsky, Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai, Ho Chi Min, Mao Tsé Tung, Patrice Lumumba, Carlos Marighella e Che Guevara.  

O falecimento recente do comandante socialista cubano, nos obriga a colocar, entre os primeiros nomes dessa poderosa constelação de estrelas da historia da humanidade, o nome de Fidel Castro Ruz ao lado da sua consigna:

Comandante Fidel Castro Ruz: ¡Hasta la victoria, siempre”!


Um comentário:

Joelma disse...

O pior é que o "bug" gerado pelo seu provedor voltou a acontecer nesta publicação, e o melhor é que sabemos que não é um problema da responsabilidade de "Novas Pensatas".
Entretanto, reflexões em torno da morte do "Comandante" Fidel Castro reafirmam a defesa incondicional, da ilha e de suas conquistas históricas rechaçando a ofensiva imperialista, mantida através da política do bloqueio econômico, levada a cabo (de forma hipócrita) neste último período por Barack Obama.
Em se mantendo a vigência programática da revolução política em Cuba para que possa efetivamente ingressar na etapa histórica do "genuíno socialismo", a melhor forma dos revolucionários honrarem Fidel, que apesar de todos os seus erros manteve-se como um combatente anti-imperialista e anti-capitalista é responder às investidas do imperialismo, que agora deve se intensificar com a ascensão de Trump à Casa Branca, é chamar a classe operária em todo o mundo a derrotar o imperialismo, não apoiando a política de “coexistência pacífica” com a Casa Branca.