quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Los olvidados

Alguém que lê este blogue, mas não faz comentários, preferiu me passar um e-mail a reclamar que esqueci do Cervantes na minha “pensata” deste domingo.
A bem da verdade, a matéria não tinha como finalidade ser um guia noturno do Rio de Janeiro. Apenas, em tom filosofal, lembrei-me de dois bares específicos, o Cinerama e o Lamas, e falei alguma coisa sobre eles.
Se fosse por isso, teria esquecido também o Bar Lagoa, o Brasil, o Luiz, o Ernesto ou o Amarelinho, que, para além de serem casas tradicionais da noite carioca, também foram pontos da boemia “festiva” naqueles anos de chumbo.
São todos bares que existem até os nossos dias e que têm história. Ou fizeram parte da história.
Mas, o Cervantes, em Copacabana, cujo sanduíche de lombinho com abacaxi é incomparável e uma das melhores especialidades da casa, para além do chope de excelente qualidade, é inquestionável e tradicionalmente um dos melhores bares da cidade. Foi inaugurado em 1955, tendo sido uma mercearia até 1965, quando dois espanhóis o compraram transformando-o no que é ainda hoje. Inclusive com duas filiais na Barra da Tijuca. Como o Lamas, só fecha a portas depois que o último cliente sai, fazendo dele um ponto ideal para os boêmios.
E já que estou a falar do Cervantes, porque não relembrar que os bares Lagoa, Brasil, Ernesto e Luiz, com seus quitutes alemães e outros acepipes ou seus bem tirados chopes, foram e são até hoje exemplos de “botecos” da melhor estirpe entre os que existem nesta cidade maravilhosa.
O Amarelinho, por situar-se no coração da Cinelândia, era um ponto de encontro quase que obrigatório para almoços, e, principalmente turmas na happy-hour, sendo outro que até os nossos dias tem seu lugar.
Mesmo assim, obviamente esqueci algum. Tem muito espaço na noite deste Rio imenso. Fora os mais novos que também se firmaram e são atualmente locais obrigatórios para aqueles que circulam noite adentro. Como a Academia da Cachaça, o Manuel & Joaquim, o Sindicato do Chope ou o Devassa, que criaram filiais ou franquias espalhadas por todos os lados. O Belmonte, no Flamengo, é um exemplo do bar que existe há mais de 50 anos e se transformou em uma rede com vários pontos na cidade.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Aonde vai parar a crise?

Autoridades governamentais brasileiras, afirmaram de pés juntos que a crise iria passar ao largo. Mas o mais curioso é que não levaram em consideração que esta crise não é apenas nos EUA, e que, mesmo sendo somente ali, se desdobraria pelo mundo e refletiria aqui. Não somos uma ilha, e mesmo se fossemos, não estaríamos imunes ao seu custo. Talvez se, quem sabe, um asteróide perdido no espaço conseguiria.
Um efeito bola de neve se expande por todos os países. Afinal, a economia é globalizada e trata-se de uma crise sistêmica do capitalismo.
“O capital é trabalho morto, que apenas se reanima, à maneira dos vampiros, sugando trabalho vivo e que vive tanto mais quanto mais trabalho vivo suga”, disse Marx em “O Capital”. O que resume um pouco do princípio de que continuarão os mais pobres a pagar pelos desacertos e aventuras financeiras dos mais ricos.
Segundo Marx, “... para o mercado, a discrepância possível entre compras e vendas precisa ser corrigida e, quando isso acontece, verifica-se a não coincidência entre os valores daquilo que se comprou e agora tem que pagar com o dinheiro de uma venda que pode não ocorrer. Segue-se um violento ajuste de contas, e os valores desaparecem.” Mas a crise do capitalismo não assinala simplesmente o simples momento negativo, da não coincidência, e sim a possibilidade de que essa situação permaneça por muito tempo.
Previamente as multinacionais estão a despedir em massa não somente em suas sedes nos países ricos, mas em suas filiais do terceiro mundo. Todos os dias, ouvimos ou lemos notícias do tipo que “a Philips demitirá 6.000 trabalhadores”, ou que “o banco holandês ING despediu 7.000 pessoas” em todas as suas unidades. Desde o agravamento da crise mundial, em julho de 2008, mais de 350 mil demissões em todo o mundo já foram anunciadas. Sendo que a essas, acrescentem-se cerca de 79 mil (1) que aconteceram ontem (26/01/2009), superando os 400.000. Entre muitas, a Pfizer, a Nextel e a General Motors, encabeçam a lista dos cortes junto com a Caterpillar que lidera o grupo e demitiu 20 mil funcionários, totalizando 18% de sua força de trabalho. No Japão 12 empresas automobilísticas já anunciam 25 mil cortes para o mês de março.
Por outro lado, enquanto a média de desemprego no Brasil em 2007 foi de 9,3% – a menor taxa anual desde 2002 –, somente em dezembro de 2008, ela chegou ao preocupante número de 130 mil na indústria paulista. E declarações da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) prevê que o nível de emprego ainda vai continuar em queda nos primeiros meses de 2009.
E não se iludam, porque isso é apenas o começo. Estamos a sentir os reflexos do que acontece lá fora, e, inevitavelmente nos atinge, passo a passo. A questão mais complexa de tudo isto, é que ainda não se pode mensurar a extensão real desta crise e até aonde ela poderá chegar. Como a crise é sistêmica, ela é muito mais profunda do que podemos imaginar e o seu destino final, mais ainda.

Citações de Marx extraídas da publicação da Folha de São Paulo: “Entenda a crise econômica pela ótica de Karl Marx”.

(1) Agência Estadão.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Narrativa estarrecedora

Uma delegação do Parlamento Europeu composta por políticos da França, Espanha, Portugal, Itália, Inglaterra e Alemanha visitou a Faixa de Gaza durante os constantes bombardeios israelenses, com a finalidade de verificar o quanto estava sendo mortífera a operação contra o território palestino. Na ocasião, oito parlamentares europeus entraram pelo cruzamento de Rafah, que liga o Egito à Faixa de Gaza.
Os euro-parlamentares permaneceram na Faixa de Gaza por cerca de 24 horas, quando regressaram. E ficaram sediados na sede da Agência das Nações Unidas para os Refugiados na cidade de Gaza.
O euro-deputado português Miguel Portas (1) defendeu na ocasião a retirada imediata das tropas israelenses da Faixa de Gaza, manifestando-se “surpreso” pelo modo como o povo palestino enfrentava a tragédia. “O cessar-fogo, a retirada das tropas de Israel tem de ser imediata”, defendeu Miguel Portas. “Entramos durante um período de tréguas, mas a verdade é que Israel não respeitou esta trégua que garantiu, pois enquanto lá estivemos ouvimos quatro bombas”, relatou.
Na pequena visita que tiveram oportunidade de fazer, o panorama que observaram foi de total destruição, contou ainda Miguel Portas. Durante a visita, os euro-deputados visitaram ainda um centro de acolhimento de refugiados, localizado numa antiga escola preparatória, que abrigava 1215 crianças e mulheres. “São pessoas que perderam a casa e, algumas, que perderam a casa e a família e agora estão a dormir pelos cantos das salas de aula, numa evidente situação de sobrelotação”.
Contudo, e apesar da situação que esses refugiados enfrentam, a comitiva foi recebida de forma extraordinária, segundo Miguel Portas. Quanto ao ambiente nas ruas, o euro-deputado português confessou ter ficado surpreendido pela forma como o povo sai durante o período que devia ser de tréguas. “Porém são poucas as lojas e estabelecimentos comerciais abertos, apenas uma ou duas, um ou outro café e uma loja que vende legumes”, afirmou.
A comitiva não chegou a visitar nenhum hospital por falta de tempo, mas quando estava na zona da fronteira com o Egito teve oportunidade de ver chegar cinco ambulâncias, com cinco feridos graves. “E, ainda por cima, como se trata de um conflito numa zona com uma densidade populacional muito elevada, as vítimas são sempre civis.”
Questionado sobre a importância desta visita da comitiva de oito euro-deputados à Faixa de Gaza, Miguel Portas disse ter sido relevante o fato de terem conseguido dar notícias. “Termos dado notícias de fora para dentro foi importante. Vale a pena correr algum risco, mas dar algo a um povo que tem sido submetido a uma imensa tragédia nos últimos 60 anos”, acrescentou.

(1) Não confundir o direitista Paulo Portas com Miguel Portas. Este é um euro-deputado português e membro do “Partido da Esquerda Européia”.

Fontes: jornais Folha de São Paulo e Público (Portugal).

domingo, 25 de janeiro de 2009

Uma pensata de domingo em tempos filosóficos

Esta semana falei do Cinerama, do Lamas, das sessões do Paissandu. Putz, lembrei de tanta coisa...

Havia um sujeito cujo apelido era “Filósofo”. Meio baixinho, o cabra circulava pelas noites cariocas, sempre nos bares freqüentados pela esquerda, a “festiva” (1), em particular. O dito personagem, lá pras tantas, já de pileque subia numa cadeira e fazia um discurso “inflamado”. No final, todos aplaudiam.
Mas, como o “Filósofo” havia todo um folclore que pairava pelas madrugadas da cidade. Quando falei do Cinerama, o barzinho que ficava ao lado do cinema Paissandu, lembrei-me das figuras que iam sempre, mas sempre mesmo com “Ulisses” ou “O Capital” debaixo do braço. “Ulisses” era a grande coqueluche da época. Em tradução da Civilização Brasileira, a leitura do livro de James Joyce era quase que obrigatória. Acontece que a simbologia do autor em sua narrativa, embaralhava demais corações e mentes nem sempre preparadas para compreendê-la. O resultado é que virou moda mesmo. Poucos entendiam, mas todos discutiam. A pergunta “... você já leu Ulisses?” era das mais comuns naqueles finais dos anos 60.
Quem carregava “O Capital” sob o suvaco, naturalmente queria dizer e mostrar ao público circunvizinho que entendia Marx, e era íntimo de suas idéias.
Tudo isto contado assim, parece simples. Mas, olha, a coisa era pra lá de complicada. Porque no auge das bebedeiras, chegavam a dar medo algumas reações e discursos numa época de repressão e violência com os militares no poder. Certamente que eles (os milicos) encaravam tudo aquilo como uma espécie de “gueto”, e, certamente vigiavam, somente vindo a tomar medidas repressoras mais violentas à medida que sentissem a coisa extrapolar a área circunscrita, e, logicamente demarcada da “porralouquice” etílica, de uma esquerda que falava para a própria esquerda, num círculo vicioso, quase um moto contínuo.
Mas, além do Cinerama, ia-se muito ao Lamas. Não muito longe dali, uns três longos quarteirões e se chegava lá, em pleno Largo do Machado, entre a garagem dos bondes da Light e do cinema São Luis. As caras eram as mesmas, mas o lugar era muito mais charmoso. Existiram poucos bares como o Lamas. Pensando bem, muito mais do que isso, um restaurante. E o melhor filé (2) da cidade.
Na frente, a tabacaria e a banca de frutas. Frutas de todos os tipos e origens, algo precioso e colorido. Na tabacaria, desde o Continental (sem filtro) até o mais sofisticado fumo Dunhill, sem contar os charutos cubanos. Mas, detalhe, ali você também comprava um Pimentel ou uma cigarrilha Talvis da vida.
No meio o restaurante, café e bar. Não era enorme, mas ao adentrar sentia-se o peso da história. Naquelas cadeiras (hoje com 134 anos de existência), sentaram os traseiros, em outros tempos, Getúlio Vargas, Monteiro Lobato, Oswaldo Aranha ou Machado de Assis, personalidades que fizeram história na política e na cultura deste país.
Nos fundos, passando uma porta de molas no melhor estilo “saloon” de faroeste, a maior sala de sinuca que eu conheci. Pelo menos que eu conheci... E o mais engraçado, ou até desgraçado, o banheiro ficava após aquela gigantesca sucessão de mesas de bilhar. Triste é que quando se chegava lá, às vezes ainda tinha que se enfrentar uma fila para tirar a bendita “água do joelho”.
Não me lembro de ter saído do Lamas sóbrio, a não ser depois que casei e fomos algumas vezes jantar; algo bem mais civilizado. Naqueles tempos de antanho, geralmente comprava uma maçã, saia trôpego do local, e, sabe-se lá como, acordava em casa no dia seguinte. Porém, foram longas e acirradas discussões sobre o futuro do Brasil e do mundo. Muita briga com o pessoal do “partidão” a ouvir discursos do “Filósofo” em cima de uma cadeira naquele burburinho de vozes que só as casas noturnas têm.
Havia também os bares do Leblon e Ipanema. O Degrau, o Alvaro’s, o Jangadeiro, o Zepellin. Mais uma vez, as mesmas caras, os mesmos debates as mesmas propostas de uma época de filósofos e filosofadas. Uma época rica em minha memória.

(1) Esquerda “festiva” era aquela que vivia apenas de discurso, geralmente não militava, e se opunha ao regime e/ou sistema de forma descompromissada, em bares e festinhas.
(2) O Lamas mudou-se dali para a rua Marques de Abrantes, quando o prédio foi demolido. Até hoje serve o seu filé, que continua famoso, mas eu acho que não é mais como aquele. Ou será puro romantismo?

sábado, 24 de janeiro de 2009

Ponto para Obama

Li hoje uma notícia da France Presse publicada na Folha Online, cujo título era: “Vaticano acusa Obama de arrogância por derrubar cláusula antiaborto”. Barack Obama subiu no meu conceito. Por quê? Ao ter a oposição da “santa madre” igreja, qualquer indivíduo está se posicionando contra uma instituição assassina (1), e, ela sim, a mais arrogante que já existiu ao longo de nossa história.
A matéria acrescenta que o arcebispo Rino Fisichella, presidente da Academia Pontifícia para a Vida do Vaticano, qualificou neste sábado de “arrogância” a autorização do presidente Barack Obama de financiar organizações estadunidenses a praticar o aborto no exterior.
Isso porque Obama derrubou um dispositivo que proibia a todas as organizações não governamentais o financiamento do governo para a prática de abortos ou o fornecimento de serviços relacionados à interrupção da gravidez fora dos Estados Unidos. “Se este é um dos primeiros atos do presidente Obama, com todo meu respeito, penso que o caminho para a decepção foi curto”, completou o arcebispo.
Mal sabia que ao falar desta “decepção”, Fisichella marcava o que, para mim, é o primeiro grande ponto de Barack Obama à frente do governo... simplesmente por peitar a famigerada Igreja “Universal” (2) Apostólica Romana.

(1) A igreja romana foi responsável pelo maior genocídio registrado pela humanidade: a “santa” inquisição. Iniciada em 1229 no Concílio de Toulouse, durou séculos, sendo quase impossível precisar quantos perseguiu e matou, calculando-se (por alto) em mais de 60 milhões de vítimas.
(2) Católica vem a ser universal, do grego’ katholikós’. O que quer dizer que a do bispo Macedo poderia perfeitamente ser a Igreja “Católica” do Reino de Deus”.

São irmãos?

Sempre achei que batendo o olho nos olhos eles são, não idênticos, mas muito parecidos. Por isso fiz esta montagem para facilitar a compreensão do fato.

Da esquerda para a direita: Roy Rogers, Juscelino Kubtischeck e Eliakim Araújo

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ainda de cinemas

Postei ontem neste blogue um artigo sobre alguns cinemas que marcaram época no Rio de Janeiro a partir da depedração do Vitória. Deu-me vontade de falar um pouco mais sobre eles. E alguns outros.
Os três Metros no Rio eram caracterizados pelo ar condicionado, numa época em que isto ainda era raro. Lembro que lá em casa tinha apenas um daqueles mágicos aparelhos muito propícios para a temperatura escaldante da cidade. Mas olha, passar na porta do Metro Copacabana em dia de “verãozão” carioca era uma dádiva dos deuses. Tinha gente que ficava parada na porta só pra refrescar um pouquinho e ganhar forças para continuar a caminhada.
Naquele cinema assisti várias vezes, ainda criança, os famosos “Festivais Tom & Jerry” que passavam todas a manhãs de domingo com as maldades daquele ratinho sádico contra o idiota do gato, a vítima que se supunha ser o “vilão”. Mas, também a Metro era quem produzia os filmes de Tarzan, e, pelo menos alguns dos musicais de Elvis Presley, isso também e ainda nos finais dos 50 e início dos 60. O cinema ia abaixo quando o roqueiro começava a cantar. E exibir o seu característico rebolado.
Ao lado, quase coladinho mesmo, ficava o Art-Palácio que me despertou quando na adolescência começava a me interessar pelo cinema europeu. Vi muitos filmes da Nouvelle Vague, como “Trinta anos esta noite” de Louis Malle e italianos, a exemplo de “La dolce vita” de Fellini, obra que me marcou profundamente. Era uma sala mais simples, porém ampla, como grande parte dos cinemas da época.
E até digo isso porque no posto seis, tinha um mini-cinema, o Alvorada, que se intitulava “cinema de arte” e que também exibia filmes europeus em quantidade. Por exemplo, “Morangos Silvestres” e “O sétimo selo” de Bergman eu assisti ali. Cinemas do gênero surgiram depois, tais como o Riviera, também no mesmo posto seis que tinha a característica de promover festivais de países cuja cinematografia era pouco conhecida por essas bandas. Como o tcheco, o polonês, o japonês, o indiano e por aí afora. Aquela sala, proporcionou-me ver filmes como “Um dia, um gato” de Vojtech Jasny ou “A faca na água” de Polansky.
Copacabana tinha muitos cinemas. O Ritz foi um dos primeiros a ser derrubado e ficava entre a Figueiredo Magalhães e a Siqueira Campos. Lembro de ter assistido um filme de Cantinflas no Ritz. Na própria Siqueira Campos ficava o Flórida. Mais o Ricamar, o Rian, que tinha o privilégio de ficar na avenida Atlântica, de frente par o mar. O Alaska, cinema quase na vertical. E um no Leme que eu nem me lembro mais o nome. Além do famoso Caruso que também era excelente.
Saindo de Copacabana, o saudoso Veneza e o velho São Luis. E digo o velho porque os que foram construídos no lugar dele são arremedos daquela esplendorosa sala exibidora. Vizinho do velho São Luis, o também velho e inesquecível Lamas, que nos dias atuais foi para não muito longe, no Flamengo. Também no Largo do Machado um poeira em que eu ia muito, o Politeama. Era enorme. Pra se ter uma idéia hoje há um grande super-mercado no mesmo lugar. Pertinho dali, indo na direção do Catete o Asteca. Depois veio o Condor Largo do Machado, que também distribuía muitos filmes europeus. O Condor, quando acabou sofreu uma reforma e virou dois, os Largo do Machado I e II.
Um capítulo a parte foi o Paissandu, que – criminosamente (1) – cerrou as portas no ano passado. Naquela sala, para além dos grandes lançamentos do cinema de vanguarda no mundo, ainda havia o Festival de curta-metragens patrocinado pelo Jornal do Brasil. Mas filmes como “Cinzas e diamantes” de Jerzy Andrzejwski e “Kanal” de Wajda passaram em sua tela. Ou “O incidente” de Larry Peerce, uma película da Escola Independente de Nova Iorque. O Paissandu foi a marca de uma geração que levou o seu nome. E ao lado o bar Cinerama (que hoje ostenta o “criativo” nome de Garota do Flamengo), reunia os espectadores após os filmes para longos papos e análises regados a muito chope. Quem viveu aquela época, viu. E eu, por acaso estava lá. Joguei muita conversa fora e tomei porres homéricos naquelas mesas.
No Leblon, o próprio Leblon, o Miramar que como diz o nome, também ficava na praia. Em Ipanema o Astória, o Ipanema e o Pirajá. Até no jardim Botânico, tinha o Floresta, um poeira horroroso que caracterizava os chamados cinemas de bairro. Mas eram baratíssimos; e viviam cheios.
Botafogo tinha vários poeiras. O Nacional, quase na esquina da Real Grandeza com Voluntários. Este depois passou por uma reforma, subiu de categoria e foi rebatizado como Bruni-Botafogo. Mas tinha também o Botafogo (onde hoje é o Estação Unibanco) que um dia havia sido o Star. E o Guanabara. Um “poeirão” quase na praia, esquina com a rua da Passagem. Este cinema tinha a característica de nas noites de verão abrir as portas laterais para que ficasse mais fresco. Neste bairro, depois surgiram o Ópera e os Coral e Escala, esses cinemas gêmeos, que estrearam com os filmes de André Cayatte “Confissões de um homem casado” num e “Confissões de uma mulher casada” no outro. Os Coral e Escala, com a decadência viraram salas de filmes pornô durante muitos anos, e hoje o local abriga o complexo do Unibanco Arteplex.
Na cidade havia também os cinemas “passa-tempo”. Tinham este nome porque exibiam curtas, na época chamados de shorts, desenhos e filmetes de todo o tipo. Nunca longa-metragens. Como seu nome dizia, tinha um relógio grande embaixo da tela e eram muito usados para se passar o tempo enquanto se esperava um compromisso qualquer. Você podia ficar o tempo que precisasse neles. O Cineac Trianon era o mais famoso deles e ficava na Avenida Rio Branco. Tinha um longo hall de entrada com atrações, como o famoso faquir que ficava dias sem água ou comida em cima de pregos numa redoma de vidro, cercado de cobras.
E na Tijuca? A praça Saens Pena era uma mini-Cinelândia. Tinham muitos cinemas ali. E nos arredores, como na Haddock Lobo e Conde de Bonfim. Mais longe um pouco, andando na direção da cidade havia o Madrid. E um outro cineminha (poeira) quase no Estácio, que eu não lembro o nome. Mas foi lá que uma ocasião, despenquei de Botafogo para assistir “O ladrão de Bagdá” em reprise, pois queria ver este famoso filme antigo de Korda com o ator indiano Sabú. Os poeiras tinha a vantagem de passar muitas reprises. Talvez por ser mais barato, mas era muito bom que isso acontecesse.
Tem ainda o capítulo dos subúrbios, mas desses não conheci nenhum. No entanto Madureira, Cascadura e Méier, ao que consta tinham muitos cinemas. E bons.

(1) Considero criminoso a prefeitura não haver tombado o Paissandu. Quando a rede Estações resolveu fechar a sala, as autoridades poderiam ter interferido para que continuasse a existir. Houve até um abaixo-assinado neste sentido, mas...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um triste espetáculo

Já havia passado por ali tantas vezes. Já havia presenciado sua decadência quando foi ocupado por mendigos. Já havia sentido dor quando um belo dia descobri que tinha virado um estacionamento. Já havia, já havia e já havia olhado com tristeza o cenário do seu abandono. Afinal, é situado em um ponto central e a gente passa por lá de quando em vez. Mas juro que nunca tanto quanto ontem, quando parei na frente dele e fiquei a contemplar, quase chorando, o seu estado.
O cinema Vitória, em plena rua Senador Dantas foi um dos melhores do Rio de Janeiro. Ali assisti “A volta ao mundo em 80 dias” de Michael Anderson, com David Niven, Shirley MacLaine e Mario Moreno (o Cantinflas) quando estreou no Brasil aquela super produção, ainda em finais dos anos 50. Fui com minha mãe à cidade especialmente para comprarmos as entradas com antecedência, pois eram lugares numerados na então luxuosa sala de exibições da rede de Luis Severiano Ribeiro.
Mas ontem, quando parei ali, vi aquela grande área, totalmente abandonada, aberta, sei lá com o quê a ocupá-la (ou desocupá-la) quase chorei. Senti um nó na garganta, e nos instantes em que fiquei estático a olhar veio-me o flashback de quantos filmes eu vi ali. Os bons, os ruins... em suma, quantos e quantos! E lembrei-me de sua ampla sala de espera, repleta de cartazes que me distraiam enquanto aguardava a sessão começar, a ver fotos dos espetáculos que ainda iam estrear, quase um trailer de filmes, muitos dos quais, sabia, não poderia perder.
Ao sair, recordei-me também dos cinemas que não existem mais nesta cidade. Como o Ópera, os três Metros (Copacabana, Passeio e Tijuca), verdadeiros pontos de referência para encontros. Ou o Art-Palácio, que também tinha em Copacabana, na Tijuca e exibia o cinejornal “Les Atualitée Françaises”. Os Metros Copacabana e Tijuca viraram lojas C&A, o Art-Palácio Copacabana é uma loja qualquer. E o Ópera? Este virou Casa & Vídeo. Neste foi exibida a estréia de “Os 10 mandamentos” de Cecil B. de Mille, com Charlton Heston, Yvonne de Carlo e Yul Brynner, filme que inaugurou a sala com grande pompa.
Fora isso os que se transformaram em templos de igrejas evangélicas, como o Bruni Flamengo, o Olinda ou o Pathé, entre outros, nem sei quantos. Mas o Rio ainda é uma cidade maravilhosa. Sim, porque sobraram alguns cinemas de rua, como o Leblon, o Roxy, o Palácio e o Odeon, estes dois últimos, resquícios de uma Cinelândia que, como diz o nome (pelo qual até hoje é conhecida) tinha em torno de dez cinemas. Além disso existem alguns outros mais novos e fora dos shoppings, como o Unibanco Arteplex, os Estações Botafogo, Laura Alvim ou Paço.
Como doeu ver o Vitória escancarado em sua deprimente depedração. Um triste final para um grande espetáculo!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Porretes, safaris e pescarias

Theodore Roosevelt Jr. (popularmente conhecido como Teddy), foi presidente estadunidense por dois mandatos (1901/1909), e ficou famoso por ter instituido a política do “grande porrete” (big stick) que, entre outras medidas estendeu e ajudou a colocar em prática – na marra – a chamada Doutrina Monroe que rezava: “a América para os americanos”. Do norte, claro.
Teddy, entre outras coisas semeou a separação do Panamá, então uma província da Colômbia, provocando uma guerra civil, objetivando a construção do canal ligando os oceanos Atlântico e Pacífico para facilitar o escoamento de produtos ianques em várias direções. A Colômbia era contra um projeto estrangeiro em seu território, mas o final da história todos conhecemos, visto que então surgiram o canal e a República, ambos do Panamá. Muito embora tenha sido inaugurado em 1913, já após o seu governo e pelo seu sucessor, o presidente Woodrow Wilson, o sucesso da operação deveu-se ao “porrete” de Teddy Roosevelt.
Para além disso, invadiu a República Dominicana e Cuba em 1905 e 1906 respectivamente para proteger os interesses do capital estadunidense investido nesses países. Fora outras ações menores nas quais os marines tiveram importantes missões no quintal abaixo do Rio Bravo, como em Honduras e outras “republiquetas” da América Central, também chamadas “Bananas Republics”, porque dominadas pela United Fruit e outros trustes de exploração das frutas tropicais.
Roosevelt enviou emissários em 1913 para o Amazonas e Mato Grosso para contactar o Marechal Rondon. O então ex-presidente nutria uma grande curiosidade sobre a região, aliás, desde a sua juventude. Após certa insistência, foi finalmente convidado pelo Marechal para uma expedição com o intuito de determinar a rota do curso d’água de um rio, cuja nascente situava-se no Território do Guaporé (hoje Rondônia). O rio foi inclusive batizado com o seu nome. O “safari” foi descrito em detalhes no livro “Through the Brazilian Wilderness”, escrito por ele.
Dando um salto no tempo, agora, um outro “porretista”, foi convidado para vir pescar no Brasil. A notícia foi divulgada ontem e diz respeito à conversa telefònica de despedida entre Bush e o presidente brasileiro, na qual aquele o convidou para uma visita ao Texas. E o sr. da Silva em retribuição à amabilidade fez-lhe o convite para uma pescaria no Pantanal.
Que infeliz coincidência...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Arco e flecha x tecnologia de ponta

Notícia da BBC Brasil veiculada no UOL Online neste domingo, revela que chegou a 1.300 o número de mortos palestinos na Faixa de Gaza (1) e apenas 13 israelenses, sendo três deles civis, os que tombaram no conflito, demonstrando que a frase lançada pelo “blogueiro” no início da invasão de Israel à área ocupada pelos palestinos não era uma mera suposição.
Einstein disse que não sabia como seria a terceira guerra mundial, mas tinha certeza que a quarta seria com arco e flechas. Mas não pensou que poderia haver uma de arco e flechas contra mísseis computadorizados e exércitos que não precisam se bater no corpo a corpo, graças à última palavra em tecnologia.
No entanto, foi o que acabamos de presenciar no Oriente Médio.

(1) Além disso, 5.100 palestinos foram feridos em Gaza desde o início dos confrontos, em 27 de dezembro.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Guaíba em dois tempos

Este post foi publicado em maio de 2007 no “Pensatas”. Republiquei “Guaiba”, que explica muito do que este continua, neste blogue, em 12 de outubro de 2008 (1).

Voltei à Guaíba quando morei em Salvador no ano de 1982, casado, trabalhando. Juro que a decepção foi muito grande. Primeiro porque a gente ia de carro até à porta da casa da fazenda, o que deitava por terra aquela atmosfera poética e aventuresca de um lugar distante, algures da civilização. Ficava fácil demais. Segundo porque estava tudo muito abandonado. Depois da morte de tio João, cada vez menos pessoas passavam as férias por lá. A Guaibinha – fazenda que ficava ao lado --, fôra vendida a pessoas estranhas.
Cheguei com meu primo Octacílio, o Tuca, a namorada dele, minha mulher, meu filho e um casal de amigos, também com a filha. A casa estava caindo aos pedaços. Buracos no chão, paredes descascadas. Tudo muito decadente. O velho Chico Parraxé já havia desaparecido. Em seu lugar, na administração estava Bacuráu, um dos seus inúmeros filhos, que construíra uma casa perto da sede. Da varanda podíamos avistá-la. Bom para ele, porque tinha uma vista também maravilhosa.
Arranjar alguém para nos ajudar foi um sufoco. Mas conseguimos, a duras penas, e nós mesmos preparávamos o desjejum. Aqueles quitutes de outrora... nem pensar. A própria cozinha estava em pedaços. Uma manhã, a Virgínia foi lá e deu de cara com uma cobra na parede. Saiu correndo apavorada. A luz continuava a mesma da pequena hidrelétrica construída por tio César há mais de 60 anos. Mas só que piscava intermitentemente. Pelo que me recordava, ela nunca foi muito forte, mas no passado, não era tão instável.
Em suma, foi uma experiência diferente de todas as minhas lembranças da fazenda. Muito embora tenham havido momentos muito bons. Meu filho andou a cavalo, coisa que nunca fizera antes. As tardes e as noites eram agradáveis, a gente na varanda a admirar aquele visual maravilhoso. Um espetáculo de luzes também, pois por detrás das montanhas víamos o brilho da iluminação de Salvador. E ao longe, Maragogipe, então com eletricidade permanente não mais apagava as luzes lá pelas dez da noite.
Mas, lembrei-me de um caso muito engraçado que aconteceu com Tuca, nos velhos tempos, numa daquelas vezes em que lá fui, ainda na década de sessenta. Numa manhã, íamos passear a cavalo. Normalmente os empregados selavam os animais. Tinham prática. Bom, eu nem me aventurava a fazer aquilo. O negócio era montar. E, principalmente montar em sela segura.
Naquele dia, Tuca sismou de selar o cavalo. Pegou os arreios e começou a fazer o trabalho. E nada. Tentativas e mais tentativas, e o negócio não dava certo. Tio João, ao lado observando, um sorriso irônico no canto da boca. Lá pras tantas, não agüentando virou-se para ele e disse:
-- Octacílio... você é um banana!
Tuca olhava para um lado, para o outro e respondia, sussurrrando, meio cabisbaixo:
-- Eu não sou banana não!.. Eu não sou banana não!.. Eu não sou banana não!..

(1) Se desejar, clique no link abaixo e leia "Guaíba"

sábado, 17 de janeiro de 2009

Um passo atrás, dois à frente

Um plano maquiavélico está sendo engendrado contra o povo palestino em que os Estados Unidos, reúnem o compromisso deste país em oferecer recursos, meios, assistência técnica e informação a Israel para prevenir o contrabando de armas do Egito para Gaza, e impedir que o movimento islâmico Hamas se rearme, uma exigência do governo de Israel para poder aceitar um cessar-fogo.
Se o plano der certo, o gabinete de segurança israelense deve votar ainda hoje um “cessar-fogo unilateral” na faixa de Gaza.
Agora, vejam bem, no entanto, o comunicado frisa que Israel precisa ter certeza de que o grupo palestino Hamas não voltará a disparar foguetes após o cessar-fogo (unilateral), enquanto o Hamas já havia comunicado que não vai aceitar as condições de Israel e vai manter a resistência armada até o fim da ofensiva. Sinuca de bico!
Quer dizer, os nazi-sionistas, pelo jeito partiram a princípio de uma máxima de Lenin que dizia “um passo atrás, dois à frente”, ou seja, recuar taticamente para depois avançar muito mais. Na verdade eles sabem que o Hamas continuará atacando, até porque eles pedem a reabertura das fronteiras e a saída das tropas israelenses; não um simples cessar-fogo (unilateral).
Mas a opinião pública mundial pode se confundir com este recuo de Israel, visando apenas um próximo contra-ataque, que eles batizaram de “defesa”, desta vez com “cara” de defesa mesmo... com a cumplicidade dos EUA e da grande mídia.
Ah Maquiavel, eras tu um principiante diante de tanta argúcia e maldade!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O que esperar de Barack Obama?

Quem espera muito de Barack Obama, talvez tenha uma decepção. Todavia aqueles que dele não esperam nada, provavelmente também.
Hillary Clinton, esta semana durante a audiência de confirmação como próxima secretária de Estado dos Estados Unidos anunciou o início de um novo rumo em política externa guiado pela diplomacia e pelo pragmatismo, no qual o país usará a força só como “último recurso”. Na ocasião condenou “ideologias rígidas”, naturalmente referindo-se ao comportamento de Bush no cenário mundial.
Com Obama na Casa Branca, os Estados Unidos iniciarão o que a futura secretária de Estado descreveu como um “poder inteligente”.
Porém é sabido ser muito difícil – senão quase impossível –, o desligamento dos estadunidenses não apenas de seus compromissos (principalmente militares) com os seus aliados, como também a necessidade de sustentar uma hegemonia anteriormente vista apenas nos tempos da Roma Imperial.
Bem, faltam quatro dias, apenas quatro para começarmos a testemunhar o que se desdobrará para além da retórica e das palavras bonitas e de efeito. E aí sim, poderemos voltar a abordar o assunto... alguns meses depois, of course!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Reflexões necessárias

Tenho centrado grande parte de meus textos no conflito Israel/Palestina. Ou melhor no novo holocausto provocado pelo nazi-sionismo sobre o povo palestino. Recebi diversos comentários neste blogue ou por e-mail, alguns insinuando posições “anti-semitas”, no meu entender infundadas, os quais, aliás já analisei, mas sobre as quais teço mais comentários, no meu entender necessários para deixar bem claras as minhas posições.

O que é semita? Segundo o relato bíblico do Genesis, Noé teria tido três filhos: Cam, Sem e Jafé. Certa vez embriagado, Noé estava nu, e seu filho Cam não cobriu sua nudez. Ao relatar o fato a seus irmãos, Sem foi cobrir o pai, que o abençoou, originando a expressão, segundo o relato das religiões abraômicas (1).
Já de acordo com a antropologia, semitas são povos unidos pela língua semita, encontrados no oriente médio a norte da África e representados por árabes, hebreus, etíopes, núbios e outras tribos distribuidas pelo oriente médio e norte africano.
Mas o que é ser anti-semita? Implica em se postar contra esses povos. Todos ou qualquer um deles separadamente.
O Sionismo é uma doutrina que defende apenas um povo na “terra prometida”, o “povo eleito” (2) e abomina os demais, sejam semitas ou lá que origem tenham. Quando me refiro a eles como “nazi-sionistas” é mesmo para estabelecer um paralelo (real) entre o comportamento político-ideológico-excludente de seu governo com o da Alemanha sob o hitlerismo, que provocou os extermínios em massa durante a II Grande Guerra (3) e em campos apropriados para esta finalidade.
É importante ressaltar que durante o terror nazista, grande parte dos prisioneiros nos chamados campos de concentração era formada por alemães considerados inimigos do regime, como comunistas, social-democratas, e pessoas acusadas de exibir um comportamento “anti-social” ou fora dos padrões aceitáveis pelo regime.
Outros povos, como ciganos, judeus, eslavos ou turcos também foram “internados” nesses campos. No entanto as únicas vítimas do terror nazista que costumam ser lembradas são os judeus. Os ciganos, a segunda raça vitimada no total de vítimas costumam ser esquecidos. E as outras? Nem se fala!
Enquanto a bibliografia sobre o holocausto judeu é imensa, não faltando museus e memoriais especialmente construídos para lembrar o genocídio, o holocausto cigano sempre foi considerado um fato de menor importância. Os documentos históricos provam que não foi bem assim e que, lamentavelmente, ao lado de judeus, nos mesmos campos de concentração, nas mesmas câmaras de gás, nos mesmos crematórios foram massacrados também cerca de 500 mil ciganos.
Só recentemente começaram a ser publicados ensaios sobre este “holocausto esquecido”, o holocausto cigano, que esses, hoje, preferem chamar de “porajmos” (4), para diferenciá-lo do holocausto hebreu.
Os pensamentos e informações acima são reflexões importantes para que fique claro que não se pode confundir estar contra a direita, hoje exercendo o poder no Estado de Israel com estar contra o povo judeu. São duas coisas completamente diferentes.

(1) Abraômicas são as religiões judia, cristã e muçulmana que partem de Abrão (depois chamado Abrahão).
(2) “(...) A raiz da palavra hebraica (Torá é hora’á – ensinamento). O Pentateuco ensina ao homem o caminho que terá que seguir se optar por viver de acordo com os desejos e diretrizes de Deus. Aquele que estuda a Torá precisa viver de uma forma que honre e eleve o judaísmo e o povo judeu...” (“O que é o Talmud” – ed. 43 – pág. 19).
(3) Assim como a Alemanha nazista testou durante a guerra armas proibidas por tratados internacionais, foi feita uma denúncia pelo grupo internacional de defesa dos direitos humanos “Human Rights Watch” sobre o suposto uso de armas com fósforo branco, por parte de Israel, na ofensiva à Gaza. O fósforo branco causa queimaduras severas e mata por asfixia. Por isso, seu uso é controlado e proibido em áreas habitadas ou em ataques a pessoas. Além disso provoca o câncer nos sobreviventes.
(4) “Porajmos” (pronuncia-se poraimos) significando “devorar”, é um termo cunhado pelo povo Rom (conhecido também pelo termo "cigano") para descrever a tentativa do regime nazista
em exterminar este grupo étnico da Europa.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A notícia que sumiu do ar

Sob o título de “Foguete atinge base aérea perto de Tel Aviv, diz Hamas” a notícia abaixo – divulgada pela Agência Efe – foi publicada no sábado 10/01/2009 (às 05h53) Eu a li lá pelas 8 da manhã, mas depois sumiu de forma misteriosa. E o mais estranho é que a procurei no índice tanto do UOL quanto no da Folha de São Paulo e ela não constava. Insistindo no caso fui na página da agência Efe, lá também procurando a matéria pelo título, recebi uma mensagem de que ali também não existia esta notícia. A sorte é que a havia copiado. Caso contrário pensaria estar a sofrer de alucinações.

“O braço armado do movimento islâmico Hamas, as Brigadas Ezzedine al-Qassam, assegura ter atingido com um de seus foguetes uma base aérea em Israel ao sul de Tel Aviv, informação que o Exército israelense desmente.
Em seu site, o Hamas afirma que um de seus foguetes de longo alcance conseguiu chegar até a base aérea de Tel Nof, cerca de 30 quilômetros ao sul de Tel Aviv.
Confirmada a informação, se trataria do alvo mais afastado de Gaza que o Hamas conseguiu bombardear em Israel desde o início da ofensiva israelense, em 27 de dezembro.
Na terça-feira passada, um foguete lançado pelo Hamas atingiu uma casa da cidade de Gedera, não muito longe da base de Tel Nof, mas também neste caso um porta-voz do Exército israelense desmentiu à agência Efe a informação.
A ofensiva israelense entra hoje em sua terceira semana após ter deixado nas duas primeiras cerca de 800 mortos e mais de 3,3 mil feridos na Faixa de Gaza.”

Enfim, se aconteceu ninguém sabe, ninguém viu (?). A notícia foi divulgada e desapareceu. No entanto não foi desmentida. Sumiu no ar... simplesmente evaporou-se.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Pausa para uma baforada

Publicado anteriormente no “Pensatas” com o título de “Papo de cachimbeiro V”. Uma boa pausa para uma trégua neste domingo...

Acho que os outros cachimbeiros devem ser como eu. Curiosos, sempre à cata de novidades em matéria de novos tabacos e sabores. Diferente do cigarro, o cachimbo tem a característica de ter em cada fumo uma nova sensação, uma nova descoberta. Seja pelo aroma, pela consistência, pela própria densidade e combustibilidade. Existem fumos que queimam rapidamente, outros proporcionam uma cachimbada longa e prazeirosa. De qualquer maneira, cada qual se adapta mais a algum momento especial.

Antes de viajar para Portugal eu mantinha uma coleção de dezenas, com certeza mais de uma centena de embalagens de tabacos. Sempre guardava a primeira de cada qualidade que eu fumava. Desfiz a coleção quando fui morar naquele país. Hoje, vez por outra me arrependo. Tinha por exemplo três embalagens diferentes de Bulldog, as quais acompanhei as mudanças e adaptações. A Finamore manteve a mesma da última produzida pela Souza Cruz. Muito embora, e não canso de dizer isto (1), tenha cometido o deslize de alterar o seu blend, e conseqüentemente o sabor, consistência, aroma e tudo o mais.

Quando recentemente (2) o meu cunhado Miguel foi à África do Sul visitar o seu irmão, que mora em Johannesburgo, encomendei-lhe um tabaco daquele país. Ele me trouxe dois. Fiquei feliz da vida. Um deles é o Jock “The loyal friend”, cuja imagem é um cão, ao que parece e é inclusive contado na sua embalagem, terá sido muito fiel ao seu dono. Um fumo popular e realmente bastante forte e puro em seu sabor, simples em sua embalagem, um blend consistente. Lembrou-me bastante o fumo francês Saint-Claude, pela força, pela presença. O outro, um fumo mais sofisticado, até pela apresentação, o Nineteen O’Four, fabricado por uma tabacaria chamada Leonard Dingler. Sua mistura é mais elaborada e me lembra a de fumos escandinavos como alguns MacBaren.

Lembrei-me de uma ocasião em que uma amiga, casada com um australiano foi àquele país e lhe pedi que trouxesse um fumo de lá. Trouxe, e o fumo era excelente. Lembrava os Dunhill, principalmente o Standard Mixture, um dos meus prediletos. E também vinha em lata. Uma lata um pouco menor do que as inglesas, mas excelentemente bem embalado à vácuo. Não me lembro do nome. O que não teria acontecido, caso não tivesse me desfeito da referida coleção de embalagens. Por isso mesmo me arrependo de tê-la desfeito após tantos anos.

Mas o certo mesmo é que hoje, fumo muito os nacionais como o Irlandês (este já é um clássico), os Candido Giovanella e outros, porque são muito bons, embora procure sempre ter um internacional ao lado. Um desastre as latinhas de Dunhill não estarem sendo importadas. E, conseqüentemente não são mais encontradas nas tabacarias. De fato, uma pena!

(1) Já até enviei um e-mail, e, posteriormente uma carta àquela fábrica de tabacos queixando-me dessas alterações. Nunca obtive resposta.
(2) Este texto é de 25 de abril de 2007.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Desgraças a deus

Postado no “Pensatas” em 30/12/2007, acho este texto muito atual por tentar explicar muito do que acontece no mundo hoje.

Sempre tive em mente o quanto as religiões monoteístas são – ou propiciam – o totalitarismo. Não foi por acaso que a democracia surgiu na Grécia, cuja crença religiosa era politeísta. A existência de um poder tão grande concentrado numa só “divindade” é uma base sólida para a visão da ditadura e do próprio culto à personalidade como uma conseqüência natural e compreensível, por estar enraizada no raciocínio vulgar.
Curiosamente no Olimpo, as coisas às vezes se complicavam, e o próprio Zeus, em toda sua magnitude, se via às voltas com divergências e revoltas. Sua palavra tinha que ser respeitada a partir de um posicionamento de seus pensamentos, tendo que convencer seus adversários com argumentos e lógica, não apenas pelo seu poder intrínseco. Quando a democracia de Aristóteles desenvolveu-se por terras helênicas em tempos distantes, este raciocínio era tão claro quanto dois e dois são quatro.
O mundo ocidental contemporâneo, infelizmente está focado em uma nada santa trindade: as religiões que se formaram a partir de Javé, ou Jeová, ou ainda “daquele que não se pronuncia o nome”, segundo a própria Bíblia. Podemos situá-las a partir do judaísmo, estendendo-se pelo cristianismo e culminando com o islamismo, religiões sempre em guerra entre si, apesar de suas origens comuns. Mais uma prova de que a “verdade” tem que também ser única e exclusiva, partindo de sua própria determinação. Mais uma evidencia do quanto são fundamentalistas e radicais, sanguinárias e retaliatórias em seus sentidos totalitários.
“Satanizada” nos tempos atuais, a “guerra santa” dos mulçumanos, pouca diferença faz das cruzadas cristãs que buscavam conquistar terras que não lhes pertenciam. Ademais, a inquisição da santa madre igreja romana perseguiu os judeus em nome de Cristo, como eles, um hebreu. E o sionismo fanático estabeleceu a volta do “povo eleito” a terras que ocuparam em tempos que a memória pouco se lembra, a não ser pelos escritos em seus “livros sagrados”, fazendo-os marginalizar e exterminar os habitantes locais, como se estrangeiros fossem, quando na realidade são irmãos, tão semitas em sua formação étnica quanto eles em suas origens. Uma reprodução atualizada do episódio de Caim e Abel.
Em resumo, a história dessas três religiões, tem sido uma seqüência de discriminações e atrocidades, perseguições e genocídios. A tentativa de impor uma crença sobre as outras, originou um comportamento sectário e consolidou a tendência ao pensamento único, origem de distorções a exemplo do nazismo, do stalinismo ou da imposição da ficcional “democracia” a partir do modelo ianque. Como se democracia pudesse surgir e se consolidar pela força das armas. Invasões, extermínios e barbaridades cometidos pelos seus defensores foram e são acobertadas como conseqüência “natural” e cultural da aceitação à idéia de um deus único, poderoso e vingativo, cuja “verdade” absoluta tem que prevalecer a qualquer custo.
Por isso, toda vez que ouço a frase “graças a deus”, eu me lembro que, vivendo em um mundo tão cruel, como este que infelizmente ajudamos a criar, o que deveria se dizer é “desgraças a deus”, pois, em seu nome e através de suas palavras todos os infortúnios têm acontecido.

Adendos em janeiro de 2009

Achei importante ressaltar que as religiões de origem africana, tão comuns em nosso país também são muito democráticas, até por serem também politeístas. Nelas, inclusive, o maniqueísmo está distante, pois seus deuses são bons e maus, dependendo de circunstâncias e momentos. Isto é muito civilizado. O que vem a provar que os povos que habitavam o chamado “continente negro” eram muito evoluídos em relação a nós, reles ocidentais.

Outro detalhe: quando falo de Javé, ou Jeová, ou ainda “daquele que não se pronuncia o nome”, estou a falar daquele que no Tanach (o antigo testamento dos hebraicos) é Yahveh, que significa “ser” ou “existir”, ou ainda “a origem de todas as coisas”. O que apenas vem a reforçar a minha tese de totalitarismo a partir do raciocínio religioso, possibilitando a plena aceitação por parte dos crentes de um líder, um dirigente máximo, um presidente que seja, mas um ditador, mandante supremo, ou seja lá o diabo do nome que tenha.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Frase do dia

“O mundo será feliz no dia em que o último dos reis for enforcado na última das tripas do último dos cardeais.” (Diderot) ... e com o auxílio dos escrotos do último dos rabinos, sionista, claro. Acrescento, hoje, 9 de janeiro de 2009.

Judeus e esquerda no Brasil

Estamos a assistir estarrecidos ao massacre na Palestina. Devemos nos lembrar que a direita hebraica, representada pela ideologia sionista é quem está a provocar esta carnificina. Isto porque nem todos os judeus pensam assim. Muito pelo contrário, sempre tiveram uma forte presença no pensamento de esquerda. Personalidades como Marx, Trotsky, Zinoviev, Rosa Luxemburgo, Bukharin, Isaac Deutscher e Sergei Eisenstein, são alguns dos exemplos que demonstram a importância que estes marcaram no desenvolvimento do pensamento socialista no decorrer dos séculos XIX e XX.
Karl Marx, cujo verdadeiro nome era Moses Mordechai Levi (neto de rabinos), escreveu “A questão Judaica” em 1843, e neste livro diz: “... A contradição que existe entre o poder político prático do judeu e os seus direitos políticos é a contradição entre a política e o poder do dinheiro em geral. Enquanto que a primeira predomina idealmente sobre a segunda, na prática dá-se justamente o contrário...” O livro é uma obra, em que Marx, faz uma profunda análise da complexa problemática.
Conta-nos Michael Löwy que há pouco mais de um século, por ocasião do congresso de 1903 do então Partido Operário Social-Democrata Russo, Lev Davidovich Bronstein (Leon Trotsky) foi interpelado por Wladimir Medem, líder do Bund (partido operário judaico), se era tão russo quanto judeu. Ao que Trotsky respondeu: “sou unicamente social-democrata...”
Li recentemente, sobre o lançamento no Brasil do livro de Norman Finkelstein, polêmico historiador estadunidense de origem hebraica, “Imagem e Realidade do Conflito Israel-Palestina” (Editora Record). Finkelstein critica de forma contundente a atual política israelense e a estratégia do sionismo. Ele também é o autor de “A Indústria do Holocausto”, livro que questiona os motivos do interesse da grande mídia e de instituições governamentais de algumas potências no apoio ostensivo à política fascista de Israel.
Mas o Brasil foi formado (quanto à parte portuguesa de nossa identidade) por judeus que foram forçados a se converter ao catolicismo nos séculos XV e XVI, tornando-se “cristãos novos”. Calcula-se que havia em torno de 200.000 judeus em Portugal na época dessas conversões forçadas. Os que não tiveram condições de emigrar (houve um grande fluxo, principalmente para a Holanda), permaneceram em solo português adotando novos sobrenomes.
Fugindo da Inquisição e seus terrores, muitos judeus portugueses vieram para as colônias na América, sobretudo para o Brasil. Para se ter uma idéia, conta-se que das treze naus da esquadra de Cabral, onze delas tinham capitães “cristãos novos”. As Capitanias Hereditárias, foram arrendadas principalmente por empreendedores de origem judaica, que também foram os primeiros investidores nos engenhos da próspera indústria do açúcar.
Mas qual a expressão judaica na formação da esquerda brasileira? Nomes mais conhecidos como os de Olga Benário, Maurício Grabois, Salomão Malina ou Moisés Vinhas, somam-se ao de militantes anônimos que engrossaram as fileiras das organizações de esquerda no país.
Pode-se falar de vida política da comunidade judaica em São Paulo a partir da formação de uma massa de imigrantes, provenientes em sua grande maioria da Europa Oriental – Polônia e império czarista –, entre os anos 1910 e 1920, com a criação de entidades comunitárias. Concentrados no bairro do Bom Retiro, os judeus daquela origem desenvolveram suas entidades comunitárias notadamente naquele local da cidade. É importante ressaltar que este período é também o da formação de sindicatos e o surgimento de greves, principalmente organizadas por operários de formação anarco-sindicalista, recém chegados, principalmente da Itália e da Espanha.
A historiadora Esther Kuperman diz que a “ASA” (Associação Scholem Aleichem), foi fundada no início dos anos 1920, e era o principal espaço de reunião da esquerda judaica carioca desde o começo de sua existência. Surgida a partir da Biblioteca Israelita Scholem Aleichem, fundada por imigrantes judeus, faz parte de um conjunto de instituições que possuem orientações políticas semelhantes, dentre as quais podem ser enumeradas a Biblioteca David Frishman, em Niterói, o Colégio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem, a escola Israelita Brasileira Eliezer Steinbarg, o Colégio Hebreu Brasileiro, o Socorro Vermelho Judaico e o Centro Obreiro Brasileiro Morris Wintschevsky.
O Colégio Scholem caracterizou-se por ministrar um ensino laico, transmitindo uma visão de judaísmo universalista. Era conhecido na comunidade como o “Colégio de esquerda”. Em sua grade curricular o ídish era mais importante do que o hebraico e mesmo as aulas de História Judaica eram chamadas de “Ídishe Gueshichte”. Com o passar do tempo, no entanto o Colégio entrou em franca decadência, encerrando suas atividades em 1995.
Segundo Esther: “... a organização de instituições que agrupassem os judeus ligados ao campo socialista pode ser vista como uma necessidade que se colocava para além da construção de laços de solidariedade e sociabilidade, pois estas poderiam ser perfeitamente solucionadas pelas demais instituições criadas pela comunidade carioca. Muito mais importante do que a construção de uma rede de solidariedade seria a existência de referenciais políticos comuns entre seus membros, bem como a necessidade de difundir e discutir idéias...”
Em agosto de 1989, um grupo de diretores e simpatizantes da ASA lançou a primeira edição do Boletim ASA http://www.asa.org.br/boletim/ . Nascia ali o embrião do que hoje pode ser considerado um dos principais porta-vozes do judaísmo progressista no Brasil.

Fontes: “A questão judaica”, Karl Marx; Revista Espaço Acadêmico, números 28 – setembro de 2003 e 44 – janeiro de 2005; “Redenção e Utopia: o judaísmo libertário na Europa Central”, Michael Löwy.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Uma foto vale mais que muitas palavras

Não sou de colocar fotos ou imagens neste blogue, mas esta e os olhares entre eles vale postar, porque simplesmente diz tudo!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Mais uma vez a danada da língua...

Sei que estou uma fúria quanto à quantidade de postagens. Mas é que fico furioso com aberrações que leio sob a ideologia fascista do pensamento único.
Com o título de “Hamas volta a lançar foguetes minutos após pausa em ataques israelenses”, a Folha Online, (hoje, agora mesmo) mais uma vez pecou pelo abuso das sutilezas da língua-mãe ao escrever: “(...) Entre os palestinos, houve ao menos 650 mortes – mais de quarto, civis...”
Caramba, vão ser sutis assim lá em... Israel. Porque afinal de contas não é difícil a leitura de “mais de quatro” ao invés de “mais de quarto”. O que, sem dúvida diminuiria consideravelmente a extensão da carnificina provocada pelas forças “defensivas” de Israel.
Não é por nada não, mas a Folha de São Paulo está a se comprometer em demasia com os nazi-sionistas.
Para começo de conversa, “mais de quarto” não está errado, mas o mais usual é “mais de um quarto”. Sem a designação “um”, a confusão fica fácil entre quarto e o número quatro. E o leitor menos atento poderá ler este número ao invés da proporção.
Tenho estado atento a esta disseminação da propaganda subliminar e do uso do inconsciente na manipulação das idéias por intermédio da grande mídia aqui no Brasil. Isto é um crime contra o cidadão. Como disse em minha recente postagem sobre semântica, imagine-se isto falado, ouvido, e não lido, quando pelo menos se tem o tempo necessário para a reflexão...

A nova contagem

“(...) Sete soldados israelenses morreram na ofensiva (...) e quatro civis foram mortos em ataques de foguetes lançados pelo Hamas contra as cidades do sul de Israel. O número de palestinos mortos é superior a 600, informam fontes médicas que atuam no território (...) Um quarto das vítimas palestinas seria de civis.”

Quando disse aqui, poucos dias atrás que agora a contagem era de “mil olhos por um, mil dentes por um”, e não mais “olho por olho, dente por dente”, poderia parecer exagero. Mas a julgar pelos números acima transcritos extraído de alguns trechos em uma das mil matérias publicada na web sobre o assunto, nota-se que está se chegando lá.
Isto deve-se ao aparato tecnológico das guerras modernas em que o combate corpo a corpo fica reduzido, devido ao domínio de aparelhagens que permite às tropas agressoras enxergar quem querem atingir (inclusive inocentes alvos escolares da ONU) sem serem vistos, nem sequer estar ao alcance do fogo inimigo.

A outra guerra

Do lado de cá do Atlântico, a guerra entre os herdeiros Marinho e o Bispo Macedo assume novos patamares. Pena que, quem quer que saia vencedor, perde mesmo é o povo brasileiro, entregue às piores máquinas de alienação coletiva jamais montadas no Brasil, tanto no entretenimento ancorado nas tramas vulgares das novelas quanto na manipulação de opinião por parte de uma imprensa marrom.
Mas vamos ao que interessa: a audiência no país cresceu 2% se comparada a 2007, quando a média era de 35 pontos. Em 2008, este número subiu para 36. A aferição desta média corresponde a 24 horas da programação.
A Globo fechou mais um ano com gosto de derrota. A maior rede televisiva do país assistiu sua audiência despencar 6% em relação ao ano anterior. Fechou 2008 com uma média de 14,2 pontos, três pontos abaixo do que tinha em 2004. Com isso, desde 2006, a emissora só faz cair.
Por outro lado a Record vem crescendo, estando a abocanhar desde 2004, cerca de um ponto, ano a ano. E fechou 2008 com uma audiência média de 6,6 pontos, assumindo o segundo lugar. O número representa um crescimento de 17% em relação a 2007.
E o SBT? Estacionado em 2008 nos mesmos 5,4 pontos da média em 2007, o sr. Abravanel perdeu definitivamente a segunda posição e hoje, pelas contagens do Ibope é apenas a terceira rede transmissora da TV aberta no país.

Os números são de matéria lida no UOL em 06/01/2009.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

E por falar em Marcuse...

Ontem falei em Marcuse. Não postei nada de específico sobre ele, mas surgiu o assunto em um comentário na última postagem. E eu fiquei motivado a falar um pouco dele e de sua principal obra. Aquela que realmente o diferenciou e o projetou como um grande filósofo do século XX. Por isso republico esta postagem, publicada pela primeira vez no antigo “Pensatas” em 20 de março de 2007.

“A Ideologia da Sociedade Industrial”, deixou a sua marca na análise da sociedade de consumo e do comportamento do indivíduo inserido nela. E, apesar dos anos que correram, continua de uma validade muito grande. Em nossos dias, neste tecnológico mundo pós-moderno, quase tudo o que Marcuse expôs, passados quase 50 anos, está aí à mostra.
Marcuse nasceu em 1898 na cidade de Berlim. Como intelectual de esquerda, agregou-se, em 1933 ao Instituto de Pesquisa Social, fundado em 1923, em Frankfurt, este instituto (mais conhecido como Escola de Frankfurt), foi considerado o primeiro de orientação marxista na Europa, composto por marxistas não-ortodoxos como Max Horkheimer, Walter Benjamin, Theodor Adorno.
Termos como “sociedade unidimensional”, “mecânica do conformismo” ou “aparato tecnológico”, foram alguns dos utilizados por Marcuse para definir o que hoje chamamos de “pensamento único”.
Segundo ele a sociedade industrial moderna impõe uma racionalidade tecnológica, de opressão em massa e de controle da consciência. O homem que se encontra inserido nesta sociedade não é livre. Há uma satisfação de necessidades falsas, através do consumo que ocasiona o que ele denomina de "mecânica do conformismo".
O livro “A Ideologia da Sociedade Industrial” acaba por ser um questionamento ao sistema capitalista atual, totalmente globalizado, feito nos seus primórdios. Uma crítica válida à tecnologia moderna, que define um estilo de vida através de um falso modelo de liberdade. A “sociedade industrial avançada”, definida por ele e refletida nesta obra, é uma sociedade extremamente artificial. O termo “sociedade unidimensional” demonstra com exatidão o controle que esta engrenagem exerce sobre o homem.
Esta sociedade, também torna-se totalitária, pois tem como objetivo o aumento da produtividade para satisfazer as necessidades do consumo. É importante ressaltar que a expressão “sociedade totalitária” não é utilizado por Herbert Marcuse somente para definir uma forma de governo baseada no “terror” físico, como estamos habituados a classificar, mas se estendendo a um sistema de produção em massa, que escraviza o homem tolhindo a sua liberdade individual, e transformando-o em prisioneiro do consumo. O que tem tudo a ver com o consumismo desmedido de nossos dias.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Questão de semântica e outros babados

“As Forças de Defesa israelenses se preparam nesta segunda-feira para invadir as áreas urbanas e mais populosas da faixa de Gaza, no terceiro dia consecutivo da ofensiva terrestre contra alvos do movimento islâmico radical Hamas na região.”
(Lide da matéria “Exército israelense se prepara para invadir áreas urbanas e populosas de Gaza” publicada hoje, 05 de janeiro de 2009 na Folha Online).

Quando se lê o trecho acima não se nota, ou quase não se nota que as “forças que atacam” são chamadas de “forças de defesa”. Isso lido. Agora imagine ouvido no rádio ou na televisão? Aí mesmo é que não dá tempo de parar, raciocinar e concluir. Faz parte do que se chama de propaganda subliminar, ou ainda: “uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade”, técnica de lavagem cerebral lançada e amplamente difundida pelos nazistas, quando no poder na Alemanha.
Além do mais, no título da matéria está implícita a chacina da população civil, na medida em que “áreas urbanas e populosas” não são compostas apenas por milicianos do Hamas, de acordo com declarações das autoridades nazi-sionistas, o único alvo da invasão, mas habitadas por indivíduos comuns. Em outras palavras, homens, mulheres, velhos e crianças. E é bom lembrar que mais de 50% da população em Gaza é de crianças.
Alguns dados extraídos da Agência de Notícias “Brasil de Fato” (1) nos mostram que desde o dia 5 de novembro, o governo terrorista de Israel fechou todas as vias de entrada e saída de Gaza. Comida, remédios, combustível, peças de reposição para as redes de energia, água e esgoto, adubo, embalagens, telefones, papel, cola, calçados e até copos e xícaras não entram nos territórios.
Ainda segundo a matéria, no dia 13 de novembro, foi suspensa a operação da única estação de energia elétrica que opera em Gaza. Suas turbinas foram desligadas por falta de diesel industrial. As duas turbinas movidas a bateria “pifaram”. Cerca de 100 peças de reposição, encomendadas para as turbinas, estão há oito meses no porto de Ashdod, em Israel, a espera de que as autoridades da alfândega israelense as liberem. Israel começou a leiloar as peças, porque permanecem há mais de 45 dias no porto, de acordo com a legislação do país.
Fora o fato de que, segundo alerta o próprio título da reportagem, “se Gaza cair, a Cisjordânia cairá depois.”

(1) http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia

Será que não se enxerga?

Li ontem à noite e não “güentei” fazer um comentário, mas o ex-presidente dos Estados Unidos, Bush I, manifestou-se neste fim de semana que gostaria que outro de seus filhos também ocupasse o cargo de presidente.
O ex-presidente ao dizer que seu segundo filho, Jeb, que governou a Flórida, é “qualificado e capaz” ainda defendeu o legado da presidência de Bush II, que deixa o cargo no próximo dia 20 com os níveis de aprovação mais baixos da história e a maior crise financeira desde a depressão de 1929, para além de manter tropas em duas guerras: Afeganistão e Iraque.
Em filme sobre o atual presidente (“W” de Oliver Stone), o ex-governador da Flórida é retratado como a primeira opção do pai para disputar a Presidência, e a eleição de seu irmão como governador do Texas é retratada quase como um acidente.
Ou o “velho” Bush está ficando gagá ou não se enxerga mesmo!

domingo, 4 de janeiro de 2009

Seleções de Seleções

Publicado originalmente no “Pensatas” em 28 de agosto de 2007, ideal para postar num domingo desses, para se descansar um pouco de genocídios e racismos.

Costumava ler nas fazendas e sítios, quando as estantes ficavam repletas de livros velhos, e, claro de muitos números de Seleções do Reader’ Digest (1), uma publicação “utilitarista” usada pelos Estados Unidos como “propaganda” no auge da Guerra Fria.
No entanto, a revista em formato de bolso, conseguia ter alguma coisa de bom. Seções como as “piadas de caserna”, por exemplo. E “Meu tipo inesquecível”, que sempre me conduziu a pensar no Garamond (2). Não exatamente o tipo de tipo a que se referia a publicação. Mas um tipo, afinal de contas.
Lembro-me também de duas historinhas contadas na revista. Uma delas é a do sujeito que, trabalhando, estava acampado num país da América Central. Numa noite, devidamente instalado no seu saco de dormir, sentiu um movimento estranho. Verifica prontamente que uma cobra havia se instalado em cima de sua barriga. Mas, que cobra? Venenosa? Tudo uma dúvida.
Naturalmente o cara ficou imóvel durante a noite toda. Mal respirava, tal a sua aflição. E não conseguiu pregar os olhos. Pela manhã, ao se aproximar alguém, ele aponta com o queixo para o volume no saco de dormir. Começa um reboliço em torno. O quê fazer? Como saber o que está ali? Enroladinha, obviamente era uma cobra. Mas que cobra?
Resumo da ópera: após muitas e frustradas tentativas, alguém tem a idéia de furar o “saco” e jogar fumaça para dentro. Incomodado o réptil sai devagarzinho do seu “leito” quentinho e aconchegante. Era uma cascavel.
A outra história é a do cão que todo dia ia esperar o seu dono no ponto de ônibus. Um dia, o inglês (morava em Londres) é convocado para a guerra. E morre. O cachorro, porém, continuou a ir diariamente -- no mesmo horário -- esperar o seu dono. Até que um dia, triste da vida, também perece. Esta é de chorar. Por isso mesmo nunca a esqueci. Li a empoeirada revistinha, na casa de campo de uma tia, nos arredores de Petrópolis em uma noite fria, à beira da lareira. Devia ter uns 17 anos...

(1) A revista existe até hoje, mas, confesso que faz muito tempo não a leio.
(2) Garamond é uma fonte tipográfica pela qual sou realmente vidrado. Principalmente na sua versão grifada é o meu “tipo inesquecível”.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Esquerda e sionismo

Em 1947, a ONU aprovou a partilha da Palestina (1) entre árabes e judeus prevendo a criação de duas nações. Em 1948, quando o império britânico se retirou da Palestina, os judeus proclamaram Israel o seu Estado nacional. A população árabe, por não aceitar a criação de um Estado hebraico na região, rejeitou a partilha. Uma guerra entre diversos países vizinhos e Israel agravou a situação. Milhares de habitantes evadiram-se do território criando centenas de acampamentos nos países árabes vizinhos e formando a chamada diáspora palestina.
Mas, quais são as relações da esquerda com o sionismo? Existe alguma espécie de sionismo de esquerda? No início da construção do Estado de Israel, e apesar das origens suspeitas do sionismo, correntes de esquerda (judias e não judias) deram muita força à formação dos Kibutz e à socialização das relações de produção no país que surgia; fator que já vinha se desenvolvendo mesmo antes da fundação daquele novo Estado. O primeiro kibutz surgiu em 1909, no território que então ainda pertencia ao império Turco-Otomano.
Após a fundação do Estado de Israel, o sionismo trabalhista ou socialista era a ala esquerda na política oficial permitida. De forma oposta à tendência dos seguidores do fundador da ideologia sionista – Theodor Herzl – o sionismo trabalhista (ligado à Internacional Socialista) não acreditava que o Estado Judaico seria criado simplesmente pelo apoio e interferência de alguma potência mundial. Os sionistas trabalhistas acreditavam que o Estado de Israel “poderia ser criado como parte da luta de classes (2), através dos esforços dos trabalhadores.”
Todavia, as esquerdas – inclusive os judeus de esquerda, – sempre viram com desconfiança o Estado de Israel, desde o seu surgimento. Mesmo entre seguidores da suspeitíssima Internacional Socialista (II Internacional) de tendência reformista e social-democrata, houve e ainda há muita oposição à sua existência. Pelo menos nos moldes em que existe. Embora há dois anos, um episódio que culminou na expulsão de Pedro Gómez-Valadés do Bloco Nacionalista Galego (de esquerda), após a publicação do manifesto “Desde la Esquerda en Defensa de Israel” gerou muitas polêmicas na esquerda espanhola e repercutiu como manifesto apoio alguns de setores desta organização internacional ao nazi-sionismo.
O apoio incondicional das principais potências capitalistas à implantação e consolidação de Israel e a discriminação racial contra os árabes sempre foram fortes motivos para justificar esta tendência. A URSS – que não se pode considerar um país socialista (3) – mas que influenciou amplos setores que alinhavam com essas posições sempre foi contra a sua existência. Obviamente por fatores políticos e econômicos que interessavam ao império soviético, dada a sua aproximação com o Egito e outros países árabes. A construção de Assuã, nos anos 1960, então a maior hidrelétrica do mundo, financiada e construída com tecnologia e capital soviéticos é uma prova cabal deste fato.
No início do verão de 2007, organizações palestinas e árabes fizeram um amplo debate na Universidade Técnica de Berlim intitulado “O povo palestino entre muros e sanções”. Fizeram importantes declarações nesta ocasião, Norman Paech, porta-voz da esquerda no parlamento alemão e professor de Economia e Política da Universidade de Hamburgo, e Udo Steinbach, diretor do Instituto para Estudos do Médio Oriente na Alemanha.
Norman Paech chamou a Palestina da “Guantánamo do mundo árabe” exigindo que, face à “agressão contra os palestinos” israelenses, e os “amigos” de Israel no aparelho governamental alemão deveriam ser investigados. “Nós, os alemães, seríamos, já agora, cúmplices dos ‘crimes’ israelenses. Para os palestinos, deveriam reconhecer o direito à existência de um estado com as suas fronteiras definidas.”
Udo Steinbach, intelectual que goza de grande atenção da esquerda anti-sionista por suas tendências pró-árabes, declarou na ocasião: “Se o Holocausto não tivesse acontecido, a Alemanha precisaria interromper as relações diplomáticas com Israel”, que para Steinbach, “é a potência absoluta da região...” acrescentando que a sua existência não estava em perigo. “O governo Hamas é a representação escolhida dos palestinos e deve ser reconhecido por nós. O muro é sinal da ruína, como podemos ver no exemplo da própria Alemanha. E finalizou dizendo que “sanções contra Israel são necessárias para forçar uma mudança de sua política.”

(1) Após dois meses de debates, a Assembléia Geral da ONU aprovou, em 29/11/1947, a Resolução 181, que deliberou sobre o Plano de Partilha, um documento detalhado anexo à resolução, que previa o fim do Mandato e a retirada gradual das forças armadas britânicas e a definição de fronteiras entre os dois estados e Jerusalém. Determinava que a criação destes não deveria ultrapassar a 1/10/1948. A Palestina seria dividida em 8 partes: três pertenceriam ao estado judeu e três ao estado árabe; a sétima, a cidade de Jaffa, deveria formar um enclave árabe dentro do território judeu; e a oitava parte, Jerusalém, administrada por um conselho tutelar da ONU.
(2) Até então a Internacional Socialista ainda admitia a luta de classes como motor da história, posição que abandonou oficialmente em um congresso poucas décadas depois, quando tirou definitivamente a sua fachada de esquerda, renegando de forma definitiva o Materialismo Histórico.
(3) A União Soviética é o exemplo mais evidente de um tipo de capitalismo que se firmou no século XX em países, que tendo retardado o seu processo de acumulação de capital e a conseqüente revolução industrial (em vista de um estágio econômico anacrônico) optaram por um capitalismo centralizado nas mãos do Estado.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Nazismo e Sionismo

Tal e qual os setores mais racistas dos estadunidenses sempre sonharam em tocar os negros de seu solo, chegando a fazê-lo quando mandaram um grande contingente deles para a África – os quais acabaram por fundar a Libéria – os nazi-alemães e outros países fortemente anti-semitas (1) também tinham como um de seus objetivos enviar os hebreus para um ponto qualquer do mundo.
Tanto que o fundador da ideologia sionista, Theodor Herzl (1860-1904), acreditava que o anti-judaísmo europeu era um grande aliado para a causa sionista, como podemos ler numa passagem de seus “Diários”, quando escreveu: “os anti-semitas serão nossos amigos mais fiéis, e os Estados anti-semitas nossos mais firmes aliados” (Theodore Herzls, “Zionistische Schriften”, 1920).
Uma etapa importante foi a transferência de contingentes significativos de judeus para a Palestina. Ainda nos anos 30, portanto antes da guerra, Rudolf Kastner (2), militante sionista, foi quem negociou pessoalmente com os ingleses e Eichmann a deportação de judeus da Hungria para a Palestina. Os trens eram vigiados pelas topas alemãs, para garantir que os deportados chegassem em segurança a seu “novo lar”.
É conveniente lembrar aqui que os tão condenados atos de “terroristas” atribuídos a movimentos como o Hamas e ações como as Intifadas, foram cometidos primeiramente por grupos sionistas. Como exemplo, basta o massacre da aldeia de Deir Yassin, no subúrbio ocidental de Jerusalém, em 9 de abril de 1948, que matou 254 mulheres, idosos e crianças árabes, assassinados no local por militantes do Palmach, então liderado por um futuro primeiro-ministro israelense, Yitzhak Shamir.
Mas para finalizar recordemos que em 7 de dezembro de 1938, Ben Gurion (3), declarou: “Se me fosse dado escolher entre salvar todas as crianças judias na Alemanha levando-as para a Inglaterra, e apenas metade delas conduzido-as para Israel, eu escolheria a segunda opção, pois temos de levar em consideração não apenas as vidas dessas crianças, mas também a História do povo de Israel.” (Yvon Gelbner, “Zionist policy and the fate of European Jewry”, Yad Vashem studies).
Moral da história: nazistas e sionistas sempre estiveram lado a lado...

(1) A expressão anti-semita é aplicada de forma errônea, talvez por sua origem, pois vem do hebraico Sem, nome do filho mais velho de Noé. Mas judeus não são os únicos povos que recebem esta classificação. Os primeiros foram os acadianos (caldeus e babilônicos). Mas também os assírios, os fenícios, os etíopes, os árabes e os ugaríticos o foram ou são.
(2) Segundo texto extraído do site da CMI (Centro de Mídia Independente –
http://www.brasil.indymedia.org/eo/blue/2006/10/362041.shtml?comment=on) “... É fato histórico que os sionistas fizeram acordos com nazi-fascistas para expulsarem na porrada os judeus pobres que se aproximavam do movimento operário, para povoarem a região da Palestina e garantir a ocupação e a solidificação do estado nazista de Israel. E isto, pra quem não sabe, foi escrito por um historiador israelita. Não é à toa que existe, e de forma bastante organizada, uma organização chamada 'Judeus Unidos Contra o Sionismo' (Neturei Karta) (4). Ou seja, sionistas e nazistas sempre andaram de mãos dadas, desde o princípio...”
(3) Ben Gurion, que viria a ser o primeiro político a chefiar o estado nazi-sionista de Israel.
(4) A Neturei Karta (Judeus Unidos Contra o Sionismo) é uma organização de origem religiosa, fundada em 1935, que acredita que a volta para Israel deva ser uma expressão da vontade de deus, não admitindo um estado hebreu conquistado de forma enérgica, antes da vinda do Messias.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O Rio sem Mala

Melhor presente não poderia haver. Começar o ano sem o “Alcaide/debilóide/factóide” (1) César Mala, o alucinado que governou a cidade por esses tantos anos em que ela só fez regredir.
Inaugurou seu Petit Trianon às pressas, só por inaugurar. Tropeçou porque uma semana antes os bombeiros vetaram a sua abertura por total inadequação da faraônica obra às mínimas condições de segurança. E, tropeçou também na segunda tentativa. Literalmente. Quase quebrando a perna.
A obra ficou inacabadíssima, apesar dos quase R$ 600 milhões gastos até o momento. Ainda bem que o novo prefeito, numa de suas primeiras medidas, instaurou uma sindicância antes de continuá-la. Somente depois de uma cuidadosa auditoria ter-se-á noção do que fazer com esta "Cidade da Música".
Já vai tarde o pior prefeito que a cidade teve. O prefeito que fez o primeiro Rio-Cidade financiado pelo sr. Roberto Marinho para instalar os cabos da NET, assegurando-lhe o monopólio da TV a Cabo na cidade. O prefeito que deixou o Rio de Janeiro, principalmente nestes últimos quatro anos, abandonado, jogado às traças. E ao traça-traça das balas perdidas. Será que por isso deixou o palácio chorando?
Vade retro...
(1) A expressão é copyright do jornalista Hélio Fernandes

Ironias da história

O título desta postagem é o mesmo de um livro de Isaac Deutscher, um dos maiores historiadores Materialistas Históricos do século XX. Deutscher, escreveu as biografias de Trotsky e Stalin, além de outros importantes livros e artigos ao longo de sua vida. Judeu, mas como milhões de outros, nunca abraçou o sionismo. Pelo contrário, o condenou.

Anteontem, neste blogue, falei sobre a Resolução 3379 da Assembléia Geral das Nações Unidas, que foi adotada em 10 de novembro de 1975.
Procurei na web a íntegra de seu texto, no entanto, encontrei apenas citações e trechos referentes a ela. Mas o fato mais significante é que a resolução afirmava na sua conclusão que (repito aqui): “O Sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial.”
Esta resolução foi anulada pela de número 4686 de 16 de dezembro de 1991 em manobra do Estado nazi-sionista de Israel, com o apoio do império estadunidense quando este passou a dar as cartas, após tornar-se a única superpotência mundial devido ao esfacelamento do seu similar, o império soviético.
Foi a forma oficial encontrada pelos fascistas do estado terrorista a prosseguir o genocídio do povo palestino (1) numa limpeza étnica das mais cruéis a que assistimos no mundo, similar apenas ao praticado contra ciganos, judeus, eslavos em geral e outras minorias raciais na Alemanha hitlerista.
Uma ironia da história. O povo que foi um dos alvos daquele massacre nos anos 1930/40 – e até o monopolizou, excluindo os demais que também foram tão vítimas quanto eles – a promover um novo extermínio de proporções gigantescas.
É importante ressaltar que o povo judeu (2) e o sionismo são diferentes, muito embora provenientes de uma mesma origem. Apesar de sua religião ser a causadora de grande parte dos males do mundo ocidental, pois gerou o cristianismo, as Cruzadas, a Inquisição e o próprio Islamismo, todos provenientes da visão monoteísta de um deus cruel e vingativo (criado à nossa imagem) e da instituição dos pecados, elementos estruturais da punição em ações nem sempre tão condenáveis.

E apesar do genocídio na Palestina, e no Iraque, e no Afeganistão, e na Somália, e no..., e na... Bom, apesar de tudo isso, muitas felicidades neste 2009 que se inicia para a meia dúzia de leitores deste blogue.

(1) Que, entre outras coisas impossibilitou, desde 1947 a partilha do seu território em duas nações, uma sionista e outra palestina. E, os isolou em guetos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, construindo inclusive um novo “muro da vergonha”, numa demonstração visível da sua política de apartheid.
(2) Existem correntes ativas do povo hebreu que são contrárias ao nazi-sionismo, como uma organização chamada “Judeus Unidos Contra o Sionismo”.